quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tudo novo, de novo - ou a saudade que fica.

Estou aqui há 5 meses. E a quantidade de coisas que aconteceu nesse período é surpreendente. Rotina é uma coisa que intercambista nao conhece. Tempo livre, daqueles pra ficar em casa sem fazer nada, também. Por isso nao escrevo aqui tanto quanto gostaria. Mas essa semana tive tempo. Inclusive pra parar pra pensar em tudo que já aconteceu, e como aconteceu, e concluí que meu intercâmbio é dividido em fases. Uma delas acabou no último final de semana. Daqui pra frente, tudo novo. Peraí, tudo novo, de novo? Aham, de novo. Intercâmbio é assim: você comeca a se acostumar com uma coisa, e ela acaba, ou se transforma completamente. Você acorda achando que vai fazer isso, isso e aquilo. E até comeca fazendo o planejado (geralmente aulas), mas depois os planos mudam, você encontra as pessoas na rua, é convidado pra isso, pra aquilo, e quando vê, mudou os planos. Mudou os rumos. É overdose de novidades e de mudanca. E agora de novo. Mudou tudo. Vao mudar, inclusive, os personagens. E essa é a parte que dá mais medo.

Eu estava me acostumando (no ótimo sentido) a viver na Antonistraße 59, com o David, a Laure e a Sandrina. Muita gente tem problemas com as pessoas com quem moram. Eu tive uma baita sorte de cair em uma WG multicultural, com pessoas excelentes e amigáveis. Muita, muita sorte mesmo, porque isso é raro! Estava me acostumando a ter a ajuda do David nos perrengues da casa, como quando a persiana do banheiro ou do meu quarto insistem em cair em cima de mim. Me acostumando com a Laure rindo o dia inteiro da minha cara, de cada coisa que eu falo ou faco, seja engracada ou nao. Me acostumei com ela pedindo conselhos amorosos e desobedecendo todos eles. Me acostumei com o pavor de aranhas da Sandrina, e com a mania dela de limpeza, passando aspirador de pó na casa quase todo dia (inclusive sugando as pobres aranhas também). Me acostumei com a paixao da Sandrina por chocolates e a preocupacao por ter ganho uns quilinhos a mais aqui. Eu estava me acostumando a combinar via skype com a Jolien e com a Lotte o que faríamos a noite. A rir do jeito louco inconsequente da Jolien, me acostumando com a aparência dela de modelo, com o jeito dela dancar e com a ênfase e a ironia presentes no seu 'JA; DOCH' (sim, claro. Tipo 'aham, tá bom entao viu?' )Estava me acostumando com a voz terrível da Lotte cantando. Com a sua animacao pra sempre fazer algo diferente. Com a cara dela de assustada quando eu contava as minhas (des)aventuras brasileiras. Estava me acostumando com as caras sexys que ela fazia quando ficava bêbada nas festas. Estava me acostumando a marcar cafés esporádicos mas sempre interessantíssimos com a Nadia. A dancar com ela em cima da mesa nas festas (culpa dela se eu voltar meio anormal pro Brasil, haha). A morrer de rir dos 300 rolos que ela arranjou aqui em tao pouco tempo, e a adorar os abracos fortes que ela me dava sempre (coisa que nao é comum aqui nem entre amigos). Essas pessoas faziam parte do meu dia a dia. Da hora que eu acordava até a hora de dormir. Por isso, as tenho como uma família que formamos em 5 meses. Família? 5 meses? Que exagero! É mesmo. Intercâmbio é exagero. Pois bem, eu estava me acostumando com essa 'família' que tao bem me acolheu por aqui, e que cuidou muito bem de mim quando precisei (e eu precisei, muito!). E no último fim de semana isso comecou a mudar...

1° - A Sandrina, a Jolien e a Lotte voltaram para a Bélgica, enquanto a Nadia voltou para a Grécia. Elas faziam parte de um programa de intercâmbio europeu chamado Erasmus, obrigatório para os estudantes universitários. As universidades dao uma bolsa para cada estudante passar um período estudando fora (bacana né?). Geralmente o período é de um semestre. Algumas universidades aceitam prolongar o tempo para um ano. As universidades delas nao aceitaram. As aulas mal acabaram aqui, e elas já tinham aulas em seus respectivos países, porque o calendário de aulas na Europa é uma coisa louca e meio sem sentido. Sabendo disso, aproveitamos cada segundinho do último mês juntas. Minha maior frustracao foi ter me acidentado justamente no período em que eu mais queria aproveitar e estar o tempo todo com minhas 'irmas'. Mas a coisa nao foi tao grave assim e eu consegui acompanhá-las na maioria das festas; quando nao pude, elas transferiram as 'festas' pra cá, pra minha casa. Nao bastasse todo esse frenesi, ainda tínhamos provas! A coisa foi mesmo frenética e intensa, mais que o habitual, e eu até emagreci por causa disso, haha. Mas chegou o dia 13 de fevereiro, e todas elas foram embora. Ainda nos veremos duas ou três vezes (elas vêm visitar, ou eu vou, e estao todas mais que convidadas para uma temporada no Brasil). Mas e depois? E agora? Minhas meninas nao estao mais aqui. Ainda estou digerindo a informacao. Ontem fui assistir a um jogo de futebol (Bayern x Fiorentina na Champions League) em um barzinho. Nem preciso dizer que, sem elas, foi um saco... Estou meio perdida ainda.

Minhas Powerpuff Girls belgas, Carnaval do Theke, semana passada

Minha grega em uma foto que nao condiz com seu comportamento habitual: muito comportada!

2° - O David é meu irmao aqui. Cuidou muito bem de mim, me apresentou pros amigos, me ajudou demais por saber falar português. No início, quando meu alemao nao era quase nada, isso foi essencial. Me ajudou a comprar meu pc, a abrir conta em banco, a cumprir todas as chatices burocráticas que também fazem parte. E me acompanhou também em festas memoráveis, principalmente em after partys aqui em casa, com os amigos dele bêbados, fazendo macarrao. Semana passada inclusive rolou isso de novo aqui. Macarrao das 6 da manha! Lecker!

Vai um macarrao às 6 am depois da balada aí?

Promoveu também um café da manha típico da Baviera: salsichas brancas com cerveja. Muito nutritivo. Além de tudo, dá um charme na casa, nao só por ser o único homem, mas por ser um baita homem. Gato demais. Fazia a alegria da casa quando saía do banheiro de cueca samba cancao. #prontofalei. Enfim, David colore nossos dias! ALÉM de tudo isso, ele é também um cara viajado (morou no Brasil e na Tansania) e inteligente. Fez no Brasil um documentário sobre o MC Gringo, um alemao que canta funk e mora em uma favela carioca. Nem se formou ainda, e já foi contratado pelo Frankfurter Allgemeine, um dos maiores jornais alemaes. Comeca em abril. Ou seja, se muda pra Frankfurt em abril. Volta em julho, mas só pra fazer a prova de conclusao de curso. Ficamos todos muito felizes por ele! Mas seu apoio, seu bom humor, seu talento na cozinha e sua cueca samba cancao vao fazer falta...

Lasagna que ganhei de presente de aniversário! David, Laure e Sandrina. (L)

Esses jantares farao falta...

3° - Eu vou morar em outra casa, também a partir de abril. O quarto em que moro ainda hoje é sublocado. A menina que oficialmente mora aqui está em Erasmus na Itália e já já volta pra cá. Tive que procurar um quarto, e achei um bacana. Mobiliado, barato, bem localizado. Com máquina de lavar e microondas (isso sao vantagens imensuráveis). Vou morar com mais duas alemas, que ainda nao conheco. Tenho medo. Assim como a Laure também tem. Porque agora ela perdeu todos os três Mitbewohnern desse semestre que acabou. Vai morar com uma espanhola e com a alema do meu quarto. Nao as conhece. Eu nao conheco as minhas novas Mitbewohnerinen. E se nao dermos certo umas com as outras? E se ela der muito certo com as meninas e esquecer de mim? E se eu der muito certo com as meninas e 'me esquecer' dela? A gente nao vai ter mais, a partir de abril, a companhia constante e a seguranca que dávamos uma pra outra. Estamos ainda na mesma cidade, claro. Mas nao dá pra fingir que é a mesma coisa que morar na mesma casa, mesmo Eichstätt sendo um floco de neve de tao mini. Vamos ter que marcar de nos encontrar, quando antes atravessávamos a sala e nos encontrávamos, estando animadas ou nao, tendo prova no dia seguinte ou nao.

As meninas da Antonistraße 59 no Carnaval do Theke

4° - O semestre letivo acabou. Mal me acostumei com a minha grade (ainda nem tinha decorado o número de algumas salas, confesso), e já acabou. No meio de abril recomeca. Novas matérias, novos colegas, novos estrangeiros.

5° - O inverno está acabando. Semana passada nevava muito e fazia - 5°C. Hoje nao neva mais e já está fazendo + 5°C. Nao vou mais ver neve, nem sei por quanto tempo (porque morando no Brasil né...). E parece bobo, mas isso é algo que vai me fazer falta também. Ainda há neve nas ruas, que está derretendo. Ainda me encanto e fico um tempo na janela observando o quanto neve é curioso. O quanto é branquinha e macia. O quanto é perigosa, mas ao mesmo tempo divertida. Eu ganhei mais uma paixao incondicional, como a que eu tenho pelo mar: sou incondicionalmente apaixonada pela neve agora.


Agora eu estou sozinha em casa. Minhas provas acabaram. O David e a Laure estao viajando para esquiar (o que é muito comum aqui, como ir à praia no Brasil). A Laure volta já no sábado, o David demora mais um pouco. Recebi algumas visitas de mais uns personagens que também sao importantes, mas que nao citei antes porque vao continuar por aqui, no mesmo lugar na história - assim espero. Mas esse tempo sozinha em casa e sem obrigacoes de estudos veio a calhar, porque me possibilitou pensar sobre tudo isso. Uma freiada no ritmo frenético, pra digerir (tentar) isso tudo. E a conclusao é que tudo que eu vivi nesses 5 meses foi fantástico. E foi tudo novidade. Mal me acostumei e já é passado. Agora é tudo novo, de novo. Assim como esses 5 meses foram muito bons, os próximos 6 podem ser também maravilhosos. Eu nao sei, assim como há 5 meses eu nao sabia. Pode ser que encontre novos amigos, novas companhias, novos portos seguros que também serao provisórios. Ou pode ser que nao, e que eu me sinta sozinha. Pode ser que eu me sinta nostálgica o tempo todo e passe os próximos meses apenas lembrando dos 5 primeiros meses, vivendo no piloto automático. Pode ser que os próximos meses, de verao, sejam ainda mais emocionantes. Tudo pode ser. Como um papel em branco. Exatamente como os papéis em branco do álbum que as meninas me deram de aniversário, dizendo: preencha a segunda metade da forma mais bonita possível, assim como nós te ajudamos e você nos ajudou a preencher a primeira.

Eu amei tudo isso. Eu amo tudo isso. Amo cada um desses personagens. Do total desconhecimento ao mais frenético amor, em 5 meses. Exagero? Sim. Intercâmbio (e tudo o que ele te proporciona), é exagero. Nao tem meio termo. É 8 ou 80. Ou, no meu caso, 800. O que é bom, é ótimo. O que é ruim, é uma scheiße total! As amizades sao AS amizades, porque está todo mundo no mesmo barco, e, sabendo que tudo vai passar, aproveitamos mais. (Isso até me faz pensar que, se soubéssemos o dia em que morreríamos, aproveitaríamos a vida muito mais - ou ficaríamos todos loucos, que é um pouco do que acontece em um intercâmbio também.)

Eles nao vao ler isso, e se lessem, nao entenderiam (só o David), mas eu deixo aqui o meu mais sincero obrigada, já cheio de saudade e com, repito, o mais frenético e exagerado amor de todos. - Ich liebe euch. Auf Wiedersehen. :)

Ps: Intercâmbio nao é recomendável para quem tem problemas cardíacos.




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Intercâmbio é isso...

Em decorrência do acidente com skibunda tenho que ficar, preferencialmente, deitada ou em pé. Nao posso me sentar por muito tempo, agaxar ou fazer qualquer tipo de movimento brusco com a coluna, o que inclui, óbviamente, dancar (cedilha, please) certo?

ERRADO.



Quem nao pode, se sacode SIM, nem que seja no chao! Tô aqui pra provar, haha!