segunda-feira, 29 de março de 2010

Pain au Chocolat*

Bretagne

Laure e eu embarcamos em um vôo da Air France rumo à Paris. Seria a única viagem que eu faria nas minhas férias aqui, devido às sequelas do acidente de janeiro. Ainda nao posso carregar peso, entao ela propôs que dividíssemos uma mala só, e ela a carregaria durante os 9 dias na Franca.
No aviao, sanduíche de salmao e uma latinha mini de pepsi, muito da bonitinha, que eu queria guardar pra mim. Fazia sol quando desembarcamos no Aeroporto Charles De Gaulle, apesar das tempestades das duas semanas anteriores. Mas Paris ia ficar pra depois. Nosso primeiro destino era a regiao da Bretagne. No trem, por causa do esquema de lugares marcados, sentei longe da Laure, em outro vagao. Uma sensacao péssima estar em um país sem dominar a sua língua. Chegando em Rennes, saltei do trem e dei de cara com ela aos prantos e tremendo. O homem que estava ao lado dela percebeu que ela lia uma revista em alemao. Quando o trem chegava em Rennes, ele a chamou pelo nome que os franceses resistentes à invasao germânica na 2a Guerra Mundial chamavam os soldados nazistas. Algo que soa como 'salbouch'. Um nome praticamente proibido desde o fim da guerra e o início dos esforcos de reconciliacao entre os dois países, que hoje sao parceiros em vários setores além do comercial. De acordo com o relato da Laure, todo o vagao ficou chocado com a atitude, principalmente ela mesma. Ele ainda repetiu o 'xingamento', e ela, tremendo de indignacao, explicou que era francesa e nao conseguia enxergar aonde estava o problema em falar e ler alemao. O homem a xingou de novo em tom mais alto. Duas mulheres puxaram a Laure pra trás, tentando acalmá-la e explicando que era melhor ignorar, uma vez que ele poderia se tornar agressivo. Aqui preciso fazer um parêntese. Desde que me mudei pra Alemanha pude entender melhor, devido à convivência nao apenas com alemaes, mas também com pessoas de outros países da Europa, os conflitos e tensoes das guerras passadas. Existe até hoje uma certa tensao em relacao à Alemanha. Muitos pais nao queriam deixar seus filhos fazerem intercâmbio aqui, porque provavelmente os pais dos pais sofreram horrores nas maos dos nazistas. Os alemaes adoram curtir com a cara dos franceses por aqui também, num tom de brincadeira, mas que esconde sim um contexto um pouco mais sério. No entanto, o esforco dos países para melhorar as relacoes é visível. Desde a criacao da UE, mais ainda. A Laure é uma super entusiasta dos esforcos de reconciliacao. Ela já havia ficado muito decepcionada quando soube que franceses trataram um amigo nosso alemao muito mal quando ele foi fazer um estágio na Franca por um mês. Depois do episódio do trem, ela ficou mais decepcionada ainda. Por mais que grande parte da populacao se esforce pra passar por cima dos horrores do passado em nome da paz, certas pessoas simplesmente nao conseguem esquecer e enterrar tudo isso. Infelizmente.
Depois de se acalmar, encontramos a Laureline, que foi nos buscar na estacao de trem. Dormiríamos a primeira noite na casa dela, em uma cidadezinha próxima à Rennes, que mais parece um condomínio horizontal fechado, com sobrados um pouco padronizados, mas muito bonitos. Ruas pequenas e extremamente tranquilas. Fomos muito bem recebidas com um super jantar à francesa, o que significa, na ordem:

petiscos - salada de entrada - prato principal - queijos (fedidos) e pao - sobremesa - chá

Um jantar ou almoco franceses demora mais de uma hora, sempre. Eles comem muito, mas fazem apenas três refeicoes diárias. E comem coisas saudáveis. Existe uma campanha do governo francês que circula há anos nos principais meios de comunicacao, e defende que deve-se comer, diariamente, no mínimo 5 frutas e legumes diferentes. Por isso, talvez, nao conheco nenhum francês gordinho. Laureline tem pais simpáticos e duas irmas mais novas, uma delas adotada. A casa é enorme, mas só tem um banheiro com chuveiro. É, em geral eles nao tomam mesmo banho com muita frequência, isso nao é mito.
Dormimos muito bem, exaustas da viagem.
Na manha seguinte, depois do café da manha com um achocolatado que só derrete em leite quente, o que me causou problemas porque eu detesto leite quente, fomos pra Rennes. A cidade é universitária. Conheci a Faculdade de Ciências Políticas onde a Laure estuda, e almocei no Restaurante Universitário de lá. Mais uma vez, muita fartura. 2,80€ dao direito a entrada, prato principal, pao a vontade e sobremesa. Saladas, camarao, frutas, sorvetes, tortas. Muita variedade. Só de bebida que nao: franceses comem com água. Bebem só água e chá, praticamente. Suco, refrigerante, essas coisas, nao bebem tanto quanto no Brasil. E no RU tinha água a vontade.
Depois demos uma volta na cidade, que é antiguíssima! Eu, que já achava Eichstätt idosa com seus 1.100 anos, me surpreendi em saber que Rennes existe desde antes de Cristo, na época do Império Romano!
Essa noite dormiríamos na casa de um amigo da Laure, Maxons, porque haveria a festa de aniversário da irma da Laureline, e ao invés de nos convidar, como naturalmente aconteceria no Brasil, ela pediu 'gentilmente' que nao dormíssemos lá.. Diferente da casa de família, fomos pra uma WG só de meninos. Acho que eles nunca ouviram falar em vassoura, pano de chao ou mesmo aspirador de pó. Algumas janelas sao emperradas, e o ar nao circulava, o que deixava um cheiro de 'macho' forte no recinto. Garrafas de cerveja, vinho, copos, tudo espalhado no chao da sala de estar, onde tem um sofá todo furado pras visitas. Ok, meu quarto nao é lá muito arrumado, e organizacao nunca foi meu forte, nem o da Laure, mas precisava relatar isso. Eu nunca vi um lugar mais sujo na minha vida. Nao sei como eles conseguem viver ali, nem como a namorada do Maxons, uma fofa que vai morar por um ano no Brasil a partir de agosto e adorou praticar português comigo, dorme lá às vezes. É inabitável por mais de 3 dias seguidos. Mas como ficaríamos só duas noites, e como nao estávamos pagando nada mesmo, ficamos por lá sorrindo. Viva a consciência do estudante financeiramente quebrado e a nossa falta de frescura!

Eu e Laure e o casal anfitriao

Na primeira noite em que chegamos lá, rolou um esquenta de uma festa que durou até as 2 da manha. Estávamos cansadas, mas o papo, as cervejas, vinhos e narguilê estavam bem agradáveis. Isso ofuscou a sujeira do lugar que, no dia seguinte, estava, naturalmente, mais sujo ainda. O momento curioso da festa: de repente, meninas comecam a gritar na rua. Todos correm pra ver. Eram cheer leaders que se apresentariam logo mais na festa de abertura dos jogos universitários franceses, que, pela descricao, sao como os inter-faculdades amadores no Brasil: muita bebida, muita farra, muita festa e muito pouco esporte. As meninas com pompons laranjas faziam coreografias bem no meio da rua, parando o trânsito do local. Coreografias bem ousadinhas, por sinal, pro delírio dos rapazes. Me senti meio nos EUA.
A galera foi embora. Estávamos mortas e dormimos como anjinhos no meio da sujeirada toda.

Saint Malo

No dia seguinte estávamos às 8 de pé, prontas para irmos de carro com a Laureline à Saint Malo, uma cidade nas proximidades cercada por muros devido às constantes tentativas de invasao inglesa. Nem precisa dizer que também é antiguíssima. E o melhor: fica no litoral. Eu e meu fraco por praias, já me apaixonei de cara. As ruas sao estreitas e extremamente charmosas. Os habitantes locais sao, no geral, gente rica, bem rica. Enquanto chovia, fomos almocar um prato bem típico da regiao, a meu pedido: crèpes!




Depois do almoco, ainda chovia, mas demos uma volta por cima do muro que rodeia toda a cidade. Belíssima a vista. Os conhecimentos de história da Laure e da Laureline tornaram o passeio ainda mais interessante. Elas me explicaram, por exemplo, que ali jazia o corpo do Assis Chateaubriant. Isso mesmo, o escritor que dá nome a uma das mais movimentadas ruas de Goiânia.

Ao fundo, jaz o corpo de Assis Chateaubriant

Muros e estacas de madeira para conter a forca das águas e os inimigos

Laureline e Laure

Antes de voltar pra casa, mais uma volta pelas ruas e vitrines, cheias de chocolates, roupas caras e lembrancinhas que sao o perigo pro bolso de qualquer turista, inclusive para o meu.

Mont Saint Michael

Os pais da Laure nos buscaram cedo na estacao de trem em uma cidade próxima à Mont Saint Michael, um dos lugares mais visitados da Franca depois de Paris.



É uma cidadezinha onde moram exatamente, segundo dados oficiais, 41 pessoas. Todas trabalham em restaurantes, lojas de souvenirs ou na principal atracao da ilha: um mosteiro desativado, transformado em museu e construído, segundo reza a lenda, a pedido direto de Sao Miguel, que foi homenageado dando nome ao lugar. Michael = Miguel.

Jardim do mosteiro ao topo de Mont Saint Michel

De dia, uma península. À noite, uma ilha. A maré sobe e termina de cercar o monte. Em volta, durante o dia, quilômetros de areia movedica, aonde turistas se arriscam em um passeio com guias.



Lá de cima, as cores do mar e da areia, juntas, formam uma paisagem deslubrante, algo que eu nunca antes tinha visto igual e me lembrou muito uma pintura em um quadro.
Uma das coisas que mais me chamou a atencao: a quantidade escandalosa de asiáticos no local. Eles ainda vao dominar o mundo.

Ruas estreitas e asiáticos aos montes

Ganhei a entrada do museu, um livrinho ilustrado do lugar em inglês e um almoco em um restaurante italiano. Os pais da Laure bancaram tudo. Estudante quebrada que sou, fiquei sem graca, mas nao recusei.
No fim da tarde, no caminho para a casa da Laure, já na regiao de Normandie, paramos em Omaha Beach, aonde existe um cemitério de soldados norte americanos mortos no confronto do Dia D da 2a Guerra Mundial. Omaha Beach foi uma das praias, assim como Utah Beach, por onde ingleses e norte americanos invadiram a Franca, para a surpresa dos nazistas que haviam tomado o poder na regiao. Foi a partir da vitória nessa batalha que o Nazismo comecou a perder forcas na Europa. Difícil imaginar que, há cerca de 65 anos, em uma praia tao bonita, haviam corpos espalhados por todo o chao.

Cemitério norte americano em Omaha Beach

Cherbourg

Depois da visita ao cemitério, seguimos a Cherbourg, a cidade onde moram os pais da Laure, e onde ela foi criada. É um dos maiores portos do mundo. No sobrado gigante, um gato tímido e um quarto de hóspedes só pra mim, com cama de casal! Novamente, apenas um chuveiro pra família toda, que conta também com um irmao mais novo. Lasagna pro jantar. Ah, comida de mae...
Depois de uma noite muito bem dormida, passeamos pela cidade. Incrível como venta por lá, um vento gelaaado mas muito gostoso (tirando o fato de, às vezes, o cheiro de peixe ser muito forte).


O domingo na Normandie foi o dia mais bonito de toda a viagem. Depois que a família foi a uma escola votar no segundo turno das eleicoes regionais (com cédulas de papel e urna de madeira), fomos com os pais da Laure conhecer algumas praias da regiao. Estava frio, mas o céu estava limpo e o sol brilhava muito.



Passeamos um pouco nas areias da praia, depois fomos de carro até um mirante, observar ainda melhor a beleza estonteante do lugar.


Eu e a família da Laure, que me recebeu (muito bem) em Normandie

No final da tarde, fomos a uma regiao chamada Nez de Voidries, ou Nariz de Voidries. No mapa da Franca, é aquela última pontinha no litoral do Atlântico. Aí o pôr do sol deu aquela forcinha pra paisagem que, sozinha, já era um espetáculo.







Na volta, passamos pela estacao de tratamento de lixo radioativo. Vários países mandam lixo radioativo pra lá, que é tratado e depois mandado de volta aos países de origem. Espero que eles saibam mesmo manusear isso e nao deixem, nunca, acontecer algo como o ocorrido em Chernobyl.
A última parada do dia foi em um castelo/museu, onde havia uma exposicao de fotos da regiao, tiradas por um fotógrafo que sobrevoou o local pulando de pára quedas. Perfeito. Pra quem, como eu, prefere turismo de paisagem do que de cidades, altamente recomendável: se passar na Franca, nao deixe de visitar o litoral da regiao da Normandie.

Jardim do castelo aonde estavam expostas fotos aéreas da regiao

Na segunda o tempo fechou um pouco, mas ainda assim pudemos conhecer dois castelos da regiao, ambos tomados pelos revolucionários franceses.

Jardins de um dos castelos da regiao

Depois a Laure tinha que visitar a avó, que tinha feito uma cirurgia e estava em uma clínica de reabilitacao. Pra minha felicidade, a clínica fica em frente a uma praia enorme e lindíssima.



Enquanto a Laure e a mae faziam a visita, eu pude passear na praia deserta. Nao estava sozinha. As gaivotas me acompanhavam de cima. Com o vento frio batendo no rosto, me encontrei no lugar mais propício do mundo pra meditar e rezar. E tudo que vinha na minha cabeca era 'que oportunidade perfeita'. Sou uma guria de sorte.



Além da paisagem espetacular, Normandie vai ficar na memória pela já antes citada 'comida de mae'. Depois de 6 meses comendo besteiras e no RU da Uni, isso tem um valor inestimável!



Ui Ui, Paris

Tivemos sorte que a greve dos maquinistas de trem nao atingiu o trecho Cherbourg-Paris e depois de três horas de viagem chegamos na capital francesa. Celyne, amiga da Laure, nos esperava na estacao. E lá vamos nós pegar metrô com malas. E mudar de estacao. E levar cutuveladas. Mas um grupo de mulheres foi bem educado e cedeu lugar para sentarmos porque estávamos com malas. A atitude surpreendeu a Laure e a Celyne, que logo trataram de avisar que eu nem preciso esperar a mesma educacao dos demais parisienses.
Chegamos na casa da Celyne mortas de cansaco. Ela mora em uma regiao bacana de Paris, perto da Universidade de Sorbonne. Tem uma estacao de metrô bem perto. Claro que isso tem um preco. 700 euros de aluguel mensal por uma quitinete mini, com um banheiro incrivelmente mini, uma cozinha de 4 m² e um quarto mini também. Quando colocamos os dois colchoes de ar no chao, onde eu e a Laure dormiríamos, nao sobrou mais espaco nenhum.
Instaladas, fomos passear. Um doce pra quem adivinhar o primeiro ponto turístico que visitamos...



Depois fomos a pé até o Arco do Triunfo, que nao fica muito longe da Torre Eiffel. Tentei tirar uma foto só do Arco, mas o fluxo de carros que circula na praca aonde ele foi construído é intenso.


Nao é pra menos: é a praca que dá acesso à avenida mais famosa de Paris, a Champs Élysée.



Descemos a avenida a pé, observando os podres de ricos se exibindo nos restaurantes caríssimos - na Europa os restaurantes disponibilizam o menu com precos do lado de fora - e constatamos que, no restaurante aonde o Sarkozy jantou em comemoracao à vitória nas urnas, o prato de ENTRADA custa 70€. Quase o preco da passagem ida/volta Munique-Paris.
A avenida é um shopping de luxo a céu aberto, com marcas como Adidas, Louis Vuitton, Disney Official e Nike. Nessa última, um banner enorme com fotos dos jogadores da seleao brasileira anunciava a chegada do novo modelo da camisa do time pra Copa 2010.


No fim da avenida, chega-se à Praca da Concórdia, a mais famosa da cidade. O Obelisco dado de presente pelos egípcios, as construcoes inspiradas no império romano e o rio Sena, juntos, formam uma paisagem urbana realmente bonita.


Depois ainda demos uma passada na porta do tio Sarkozy.

Residência oficial do Sarkozy, presidente francês

Na entrada da rua, que é a mesma da embaixada norte americana, sempre ficam policiais de plantao. Sorrindo, perguntaram se estávamos bem, naquele tipo de pergunta que, na verdade significa 'cuidado com o que você vai fazer nessa rua, menininha. Se você cuspir no chao, vamos achar que você tem uma bomba na boca e vai explodir tudo, por isso te prenderemos e deportaremos'. Tensao palpável.
Ficou ainda pior quando, de repente, pararam o fluxo de carro(e)s e um portao se abriu bem na nossa frente. Os policiais pediram pra esperarmos, e, nao sei de onde, surge um carrao preto com vidros fumê e entra em alta velocidade no casarao. Os portoes se fecham e o movimento na rua volta ao normal. Segundo as meninas, como o partido do Sarkô só ganhou as regionais em uma província francesa, ele nomeou um novo Ministro do Interior, e provavelmente era ele quem chegava no carrao. Seguimos pra estacao de metrô mais próxima, passamos no Carrefour (que em francês significa cruzamento, no sentido de espaco urbano), compramos macarrao e molho e fomos pra casa da Celyne comer e dormir. A night em Paris ia ficar pra depois. Estávamos mortas.
Dia seguinte, programacao ousada. Primeiro Versailles, que fica fora da cidade. Tem trens RER, que levam até a cidadezinha, o tiquet custa 2,60. Estudantes da Uniao Européia com menos de 25 anos nao pagam pra entrar em museus e prédios públicos, o que era o caso do Palácio de Versailles. Cruzei os dedinhos e, por causa do visto alemao, economizei 15 euros. Pegamos a fila gigante pra entrar no Palácio (no verao deve ser impossível entrar) e, com um áudio em português de Portugal, comecei com as meninas a visita ao Palácio. Muito bonito, majestoso e... entediante. Tudo que eu conseguia pensar era que toda aquela ostentacao, todo aquele ouro, tudo aquilo foi construído às custas da morte de muita gente e do ouro de países africanos. Minhas veias latino-americanas pulsaram forte e eu senti até um certo repúdio.

A famosa 'sala dos espelhos' (sujos)

Acho que vou sentir a mesma coisa se visitar as igrejas de Portugal, cobertas com ouro do território brasileiro... Mas uma coisa eu achei bacana: descobrir que os menininhos da corte se vestiam como meninas até os 7 anos de idade. Ui.
Os jardins do Palácio sao lindos. De perder de vista, de tao enormes.



Se você tiver grana, pode pagar 30 euros por uma hora em um carrinho de golfe. E pode também lanchar por 15 euros em um dos restaurantes locais. Como nao era nosso caso, sacamos nossas baguetes da bolsa e comemos sentadas ali mesmo no chao (o que faz a maioria dos visitantes), antes de passear a pé pelos jardins. Claro que nao visitamos nem 1/3 da área do local, mas eu já estava satisfeita e as meninas já tinham ido lá outras vezes. No trem de volta a Paris, aquele cochilo esperto. Ainda assim, estávamos cansadas, e decidimos fazer um programa light em seguida: sentar e observar a cidade de dentro de um barco, no Rio Sena. 11 euros pelo cruzeiro de 1 hora.

Paris vista do Sena

Muito bom pra ver os principais pontos turísticos, como a igreja de Notre Dame, e passar debaixo da ponte dos enamorados e observar os casaizinhos apaixonados fechando os olhos e fazendo pedidos. Ok, também fiz o meu, confesso.


Igreja de Notre Dame

Descansadas, nos despedimos da Celyne, que tinha aula, e fomos pro Louvre! Fizemos o percurso Torre Eiffel -Louvre a pé, o que é relativamente demorado (40 minutos), mas além de economizar ticket de metrô (1,60€), passear na beira do Rio Sena nao é lá um sacrifício...

O Sena e o Louvre ao fundo

Ir ao Louvre de noite foi uma estratégia minha. Já eram 18 hrs, e eu nao queria ir ao Louvre cedo para nao passar o dia inteiro por lá. O cansaco e a hora me obrigariam a ficar menos tempo. Além disso, terca a noite, a partir das 18, o preco da entrada cai pela metade. (Mas eu nao paguei, novamente por causa do meu visto alemao). Primeiro, no entanto, curtimos um pouco o pôr do sol no Jardim do Louvre.



Depois fomos nos aventurar em alguns pedacos dos 16 km de galerias. A entrada é aquela pirâmide de vidro famosa e, embaixo dela, tem a sala de tiquets e o acesso às quatro áreas do museu. Só fui em duas.



Aí rolou um leve choque cultural. A Laure perguntou o que eu queria conhecer. A Monalisa primeiro, respondi.


Depois de chegar à sala cheia de gente e me decepcionar com o tamanhozinho dela (sério, ela é muito pequena!), a Laure perguntou retoricamente. 'Você nao vai querer ver essas coisas de Egito, Grécia, essas antiguidades nao né? Tem muitas obras de arte interesantes, pintores famosos e tal..'. Aí é que tá. Pra ela, isso é fabuloso. Pra mim, é chato. Ok, tem seu valor, os caras tinham talento, mas eu nao acho, de jeito nenhum, que suas pinturas representam tanto assim pra cultura da humanidade. Representam pra cultura européia, o que é muito diferente. Claro que pra Laure, francesa e patriota, cultura européia = cultura mundial. Pra mim nao. E sim, eu acharia muito mais legal ver a parte dedicada aos egípcios e aos gregos - esses sim, a meu ver, contribuíram muito para a humanidade com seu pioneirismo em vários sentidos e suas culturas singulares - pro desapontamento da Laure. Na verdade, depois de ler as datas como 4.000 A.C. nas pecas de roupas, decoracao, sarcófagos e até em uma múmia de verdade, ela acabou se rendendo à genialidade desse povo.

Múmia no Louvre

Mas a parte do Egito tem tanta coisa, mas tanta coisa que cansa. Seguimos entao pras estátuas gregas. Inúmeras também. Tudo no Louvre é demais. Inclusive em quantidade..
Pra nao decepcionar a Laure, falei que queria ver as pinturas que ela achava mais importantes. E uma coisa comum em quase todas elas: pessoas nuas ou se pegando. Esses europeus... haha.

Pegacao no Louvre

Falei minha constatacao pra Laure, que ficou irritada com minha leiguice, mas acabou concordando depois, e rindo. Nesse trajeto das pinturas européias, ela ia perguntando se eu conhecia fulano de tal ou ciclano de tal. Geralmente eu nunca tinha ouvido falar, o que ela achava um absurdo. A coisa foi chegando em um ponto vergonhoso, e eu estava me sentindo mal por duas coisas: pela cara de reprovacao dela sempre que eu dizia que nao, nunca tinha ouvido falar de fulano de tal, como se eu fosse a pessoa mais burra do mundo por isso ; e pelo fato de isso revelar que os franceses nao têm a menor nocao de que a cultura mundial nao se resume à história deles, (que sim, é louvável, mas nao mais que a de vários outros povos e países) e que o mundo inteiro nao é obrigado a saber detalhes disso. Será que é tao ruim assim nunca ter ouvido falar do professor nao sei de que escola nao sei de que ano? E o que os franceses sabem sobre o Brasil? Ela parecia nao compreender que eu vinha de um outro mundo, e que tudo que era extremamente importante e significativo pra ela, nao fazia a menor diferenca pra mim (o que nao quer dizer que eu nao ache interessante, saber nunca é demais). Essa concentracao no próprio umbigo me irritou profundamente e o clima ficou pesado. Resolvemos ir embora, mortas de cansaco e ambas claramente decepcionadas uma com a outra: eu por constatar a soberba da Laure; ela por constatar o quao diferente dela eu sou, e o quao o meu mundo também é diferente.
Lógico que nao tínhamos mais fôlego nem clima pra sair a noite.
Na manha seguinte, Mont Martre. O clima entre nós duas estava melhor, mas o clima na cidade nao. Chuva. Mesmo assim fomos de metrô até o bairro famoso pelo Moulin Rouge (que fica em uma rua cheia de lojas de artigos eróticos e etcs, uma espécie de 'Luz Vermelha' parisiense) e pelo filme da Amélie Poulain.

Moulin Rouge



Menu do barzinho famoso pelo filme 'O fabuloso destino de Amélie Poulain'

Com ruas estreitas e várias lojinhas, o bairro é um charme, apesar de nao ficar na parte rica de Paris. Eu experimentei o Quick, um fast food belga que só existe na Bélgica e na Franca. Nao, nao é bom. E é caro. Depois fomos à igreja de Mont Martre, que fica no topo de um morro. De lá temos uma vista panorâmica de Paris.

A igreja de Mont Martre

Pena que chovia litros. Ainda assim deu pra descer pelos caminhos onde a Amélie desenhou no chao pro futuro namoradinho dela encontrá-la. O lugar é uma graca.


Depois voltamos à parte nobre de Paris para visitar o museu preferido da Laure, o D'orsay. Bem menor que o Louvre, mas também com um acervo respeitável. Nao era permitido tirar fotos no local. Tinha muitos quadros do Van Gogh, o que tornou a coisa mais interessante pra mim. Zica do dia: choveu de manha no Mont Martre, quando estávamos ao ar livre. Decidimos ir no museu, e enquanto estávamos lá, fez sol. Quando saímos, o tempo fechou e choveu tanto que abortamos o plano de ir em um 'mercado de pulgas' famoso de Paris e fomos direto pra casa. Meu casaco estava molhadao e a Celyne teve a brilhante ideia de botar pra secar perto do aquecedor, o que resultou em uma mancha de queimado. Super.
A chuva deu um descanso a noite, e fomos, finalmente, pra night parisiense. Ou quase. O destino era um bistrô em um bairro que chama República. Segundo a Celyne, o bistrô mais barato que ela conhecia. Barato = uma taca de vinho a 4 €. Imagina um bistrô caro.. e 12:oo p.m. o Bistrô fechou. Eu queria ainda ir em uma boate, ou algo do tipo, mas teria que desembolsar no mínimo 30 euros pra isso. Desisti. No entanto, foi agradável conversar com os amigos da Celyne, inclusive um japinha que fala alemao. Um alívio nao ter que ficar falando só inglês. Inglês pra mim, hoje em dia, é mais complicado de falar do que alemao.
Nosso vôo no dia seguinte de volta à Alemanha era às 15 h. De manha, ainda passeamos nos Jardins de Luxemburgo e perto da Universidade de Sorbonne e do Panteao.

Jardins de Luxemburgo

Universidade de Sorbonne


Conclusoes sobre a viagem:

Melhor destino : Normandie. Indiscutivelmente.
Pior programa: nenhum, tudo foi bem bacana, mas corrido.
Pior da Franca: os próprios franceses, a maioria com um rei imenso na barriga. Preguica.
Dica: Se quiser visitar o Louvre todo, mínimo dois dias. Se quiser conhecer Paris sem morrer de cansaco, mínimo uns 7 dias.
Atencao: Tudo é muito caro, de comidas a souvenirs. Bem mais que na Alemanha.
Licao dsa viagem: Passar muitos dias viajando com um amigo (a) exige muita paciência e uma amizade realmente forte. (eu e a Laure estávamos quase nos matando no final, mas hoje estamos super bem!)
Ah é, o título: * pao com chocolate, uma coisa gostosa pra caramba que os franceses comem com muita frequência! tipo um croissant, massa folhada e chocolate por dentro! Très bien!