segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Não está fácil pra ninguém

Quem é jornalista sabe que o lado glamuroso da profissão, disseminado em filmes hollywoodianos existe, na prática, para poucos (pouquíssimos). O STF decide que não é preciso diploma pra exercer a profissão, os sindicatos não operam como o esperado, a classe é desunida e os rumos são incertos. Muitos se viram em dois empregos para dar conta das contas, principalmente quando se trabalha em redação (assessorias de imprensa em geral exigem menos trabalho aos fins de semana e feriados e pagam melhor). Mas a queixa, meus caros, nao é exclusividade dos redatores brasileiros. Os Brüders alemães também querem melhores salários, e pra isso fizeram uma petição online voltada aos donos de jornais. Segue a petição traduzida.

*O termo editor é utilizado por eles para se referir aos donos dos jornais.



"Queridos editores de jornais da Alemanha,

nós somos os jovens jornalistas da Alemanha. Já devem ter ouvido falar de nós alguma vez. Vocês estão prestes a decidir o nosso futuro. Com um salário baixo, vocês querem acabar com nossas perspectivas profissionais. Mesmo quando vocês dizem que não, vocês acabam colocando em risco também o futuro do próprio jornalismo.

Jornalismo já é, para muitos, uma profissão pouco atrativa. Ainda nas universidades e escolas de jornalismo os jovens jornalistas já descobrem como se tornaram ruins as oportunidades de trabalho no campo das mídias. Muitos de nós vimos amigos desistirem do jornalismo. Eles acabam preferindo se tornar relações públicas ou procuram outros empregos com melhores perspectivas de futuro. O ramo terá em breve problemas para conseguir contratar bons profissionais.

Caros editores, vocês de fato sabem que estão prestes a desencorajar do jornalismo muitos bons profissionais, com seus honorários e suas políticas salariais? Quem vai querer trabalhar pra vocês, se vocês encurtarem mais uma vez os salários drasticamente? Com todo o respeito: nós acreditamos que a atual geração de jovens jornalistas recém formados nas universidades e escolas de jornalismo são os melhores e mais bem preparados que a Alemanha já teve.

Muitos de nós trabalhamos com determinação há anos como repórter ou redatores. Nós fizemos estágios mal remunerados em suas empresas e trabalhamos por anos recebendo o limite do sustentável. Nós estudamos, aprofundamos nossos conhecimentos em política, ciência e cultura, temos experiência no exterior, falamos diversas línguas. Podemos escrever, filmar, conhecemos as tecnologias da web 2.0. Temos que trabalhar nos finais de semana, à noite, conhecer sérios problemas sociais de perto e fazer hora extra, pelas quais nós naturalmente nunca somos pagos. E agora o salário inicial para jovens jornalistas ainda deve diminuir em 30%?

Nós somos idealistas. Nós amamos essa profissão. E nós acreditamos que a mídia tem um papel importante na democracia. Mas sabe? Se vocês diminuírem o salário de maneira tão drástica, vocês nos darão a sensação de que não acreditam mais no jornalismo. Nos dá a impressão de que jornais são para vocês apenas um objeto de especulação, que deve render o maior lucro possível até o grande colapso final desse modelo de negócio.

Mas o jornalismo tem uma tarefa. O que seria do quarto poder? Quem separaria para os leitores o importante do desimportante, quem ordenaria e explicaria para os leitores as importantes conquistas e descobertas sociais?

Vocês adoram falar de jornalismo de qualidade. Para ter qualidade, é preciso ter jornalistas motivados. Leitores compram produtos midiáticos, porque esperam ler ali notícias e histórias bem pesquisadas e apuradas. Nós acreditamos no futuro do jornalismo profissional.

Caros editores, como podem falar em mercado, quando vocês ao mesmo tempo cortam verbas das redações, acabam com empregos e diminuem o nível de salários? Uma empresa não deveria investir em um negócio no qual ela acredita? Seleção, análise, classificação e conhecimento em áreas específicas, esses são os pontos fortes do jornalismo de qualidade. São fatores de qualidade que exigem tempo e trabalho intensivo. E é exatamente isso que vai faltar no jornalismo barato.


Nós agradecemos pelos colegas de vários jornais, que fizeram notável nas últimas semanas, que suas crenças no futuro do jornalismo ainda existem. Com seus chamados e suas greves, também se preocuparam com nosso futuro.

Caros editores, mostrem que vocês também acreditam nos jovens jornalistas e no futuro do jornalismo. Nós os incentivamos a descartar os novos planos de mudança. Quem quer bons jovens, deve pagar um salário justo e apropriado. É isso que nós esperamos.

Munique, 2 de julho de 2011."


O salário acertado entre donos de jornais e a associação de jornalistas da Alemanha para iniciantes na carreira era de 1.558 euros até o ano passado, mas a realidade é outra. Normalmente é oferecido a eles nao mais do que 1000€ (o equivalente a cerca de R$ 2.240), e na maioria das vezes benefícios como seguro de saúde não são inclusos. Ainda assim, a previsão é de que os salários possam ser diminuídos em até mais do que 30%, que foi a quantia proposta pela Bundesverband der Zeitungsverleger (Associação Nacional dos Donos de Jornais da Alemanha)
Aqui no Brasil, muitos jornalistas, iniciantes ou não, sonham com um salário de R$ 2.240 e por isso o choro dos alemães nos parece exagero. Mas é preciso levar em conta o custo de vida, que nas grandes cidades alemãs, como Munique e Berlin, é alto. A negociação entre a Deutscher Jornalisten – Verband (Associação dos Jornalistas Alemães) e a Bundesverband der Zeitungsverleger (Associação Nacional dos Donos de Jornais) ainda não foi finalizada.




Com informações do site da Associação dos Jornalistas Alemães (DJV) http://www.djv.de/SingleNews.20+M5a4036139e5.0.html

O original da petição em alemão está disponível no link http://www.openpetition.de/petition/online/offener-brief-von-nachwuchsjournalisten-an-die-deutschen-zeitungsverleger


Tradução minha, Ana Carolina Castro.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Logística Reversa

Dia desses, zapiando pela TV, vi um dos muitos comerciais da Coca Cola. Ele tratava principalmente do caráter sustentável da empresa, que recebia de volta garrafas de vidro e Pets para reciclagem. Procurei o vídeo na internet mas não achei. O importante é que isso me lembrou uma coisa da Alemanha sobre a qual eu sempre quis falar aqui, mas sempre deixava pra depois. A cultura da reciclagem é bastante difundida por lá, algo já estabelecido. Além da coleta seletiva rigorosa (levei sabão por separar lixo no tonel errado, no início do intercâmbio), eles têm em quase todos os supermercados máquinas como essa, de devolução de garrafas.


Funciona assim: quando você compra uma garrafa de qualquer coisa, vem na etiqueta do supermercado o valor do produto + alguns cents, que você deve pagar pela garrafa (Pfand). Dependendo do tipo de garrafa, o valor varia entre 10 e 35 centavos de euro. Aí você leva pra casa, consome o produto, vai juntando as garrafas em casa e, quando acumular, leva tudo no supermercado e coloca nessas máquinas, uma por uma. Elas vão recebendo as garrafas, contabilizando e, no final, você recebe um ticket com o valor total das devoluções.

Daí tem duas opções: ou o ticket é usado para complementar possíveis compras ali mesmo ou você passa no caixa e retira o valor em dinheiro. Detalhe: você não precisa necessariamente devolver a garrafa no local onde ela foi comprada. No início achava estranho e pensava que, dessa forma, as redes de supermercado sairiam no prejuízo. Mas elas também recebem o valor que desembolsaram, no momento em que as empresas vão buscar as garrafas. Bacana, não?
Aqui no Brasil, a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos, de agosto do ano passado, versa sobre a chamada logística reversa: a empresa deve ser responsável pelos resíduos que produz, recolhendo-os e destinando-os para reciclagem. O prazo para as adequaçoes vence no ano que vem, mas vejo poucas empresas se mexendo em relação a isso.
Será que vai ser mais uma lei muito bem escrita, porém não posta em prática?



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Diário digestivo de viagem

“Minhas memórias de viagens sempre passam pelos lugares onde comi. Se você me perguntar como é a Grécia, por exemplo, vou começar te contando de uma salada verde...” - esse é um trecho de uma entrevista que a jornalista Renata Vasconcelos, apresentadora do Bom dia Brasil, concedeu à revista TPM.
Quando li, lembrei automaticamente das comidas que ficaram na memória dos lugares por onde passei durante meu ano de intercambista na Europa. Decidi fazer uma listinha das comidas memoráveis.

Alemanha

Vamos começar do começo mesmo, já que meu intercâmbio foi lá.
A comida memorável da Alemanha foi: macarrão com molho pronto de bolognesa.
Isso mesmo que você leu. Era disparada a comida que mais consumi nos meus 11 meses de intercâmbio, isso porque era prático, barato e não tinha erro. Então, era perfeita pra mim!
Quando queria variar, arriscava cozinhar umas batatas, ovos (raramente, porque eram caros) e salsichas alemãs ou carne moída de porco (que é a mais barata e mais consumida do país). Nos dois últimos casos, fazia na frigideira. Virava uma "carne moída frita", mas até que era gostoso. O arroz, quando eu comia, era parbolizado, que vem em saquinhos.
É, dos itens citados só a salsicha caracteriza a Alemanha mesmo. Ainda tem as cenouras, que eu comia inteiras e cruas, as pringles e as nutellas, das quais já falei aqui.
Mas se for pra eleger um prato típico de turista que ficou na memória, vou escolher um bem regional, da Baviera: salsichas brancas cozidas com um pãozinho salgado chamado "bretzel", com mostarda alemã (odeio a mostarda daqui, mas a de lá é Ó-TE-MA!) e o toque final: CERVEJA. E isso é o tradicional café da manha da Baviera. Lass dir schmecken! (bom apetite). O melhor de tudo: dá pra comer essa delícia aqui em Gyn mesmo, no Naturbier. Pede Weisswurst, já vem a mostarda e o chopp alemão. Só fica faltando o bretzel mesmo.




República Tcheca

O primeiro país que visitei depois da Alemanha (uma horinha no aeroporto de Roma não conta, ?). Infelizmente fiquei só um fim de semana por lá. Por isso não tive tempo de experimentar muita coisa. Me lembro, no entanto, do dia que saí do hostel com as duas amigas que me acompanharam na viagem. Foi no dia que chegamos, já a noite, tava um frio do caramba (-12°C) e saímos pra jantar, a pé mesmo. Não estávamos em uma região muito central de Praga, mas estávamos perto do metrô. No entanto, não nos arriscamos a pegá-lo de noite, logo no primeiro dia, então procuramos um restaurante ali mesmo. Entramos em um local fechado, onde era permitido fumar (quase tudo é permitido na República Tcheca) e, apesar de ter ficado incomodada, a fome falou mais alto. Ninguém sabia falar inglês no restaurante e nenhuma das três sabia falar tcheco. Tentamos falar alemão, mas não adiantou muito. O jeito foi pegar o cardápio (que não tinha legendas em inglês, pelo fato do bairro não ser turístico) e pedir na sorte.
Uma de nossas amigas era vegetariana (oi Helena) e eu nem lembro como ela se saiu nessa. Só sei que eu dei sorte e acabei pedindo, no escuro, algo parecido com carne de frango e batatas assadas ao redor. Era gostoso.
Nos outros dias comemos basicamente em banquinhas de pão com salsicha ou em coisas como o KFC Fridays, delícia que eu experimentei pela primeira vez lá.
Mas é isso, República Tcheca pra mim tem gosto de frango com batatas assadas.


Inglaterra

Onde passei meu reveillon. A terra do fish and chips (peixe com batata) e eu não comi isso nenhum diazinho sequer. Portanto, não é essa a comida que ficou na minha memória. O que eu nunca vou esquecer da Inglaterra é a LASAGNA que eu comi em uma cantina italiana de Londres. Você pode achar injusto, porque não é típico de lá. Realmente não é um prato típico inglês, mas pode-se afirmar que é típico londrino. Não foi só uma vez que comi em restaurante italiano em Londres. Tem várias cantinas e restaurantes italianos na cidade. Londres é multicultural, tem gente de todo o mundo e comida de todos os jeitos. Mas meu grupo de viagens topou quase sempre com os restaurantes italianos, ma-ra-vi-lho-sos. Lembro também que comi um calzone imeenso. Mas o que ficou na memória foi mesmo a lasagna. Delicious.

Holanda

Lê-se Amsterdam. Foi lá que eu passei o Natal. A ceia foi com uma família que é mistura de holandeses com brasileiros, então tinha muita coisa típica brasileira. O que eu lembro de ter comido em Amsterdam foi um churrasco argentino, que tinha tudo pra ter sido ótimo, não fosse o rato subindo na parede, do meu lado. Hehe.
Então pula pra próxima: em Amsterdam existem umas lanchonetes muito interessantes. Elas se chamam "Febo" e funciona assim: a parede é toda formada por mini forninhos, onde estão à mostra vários tipos de salgados. Você coloca uma moedinha de 1€, a portinha do forninho escolhido vai se destravar, você abre e pega o salgado. Fim. O salgado não é muito grande, então é bom ter mais de uma moedinha disponível. Comi uma espécie de disco de carne, delícia.



Fran
ça

Ui ui, dessa vez a comida escolhida é super típica e o Brasil devia aderir: o pain au chocolat, ou pão com chocolate, é super tradicional na França, está em 99% dos cardápios de café da manha e é uma delicia. O croissant de chocolate é quase a mesma coisa, mas o pain au chocolat é mais "tchan". Nem sempre a massa do pain au chocolat é folhada, mas ainda assim, é uma coisinha gostosa demais. Cheguei a comer uns crépes, mas o pain au chocolat ganhou meu coração.

Áustria

Vale ter passado só um dia em Salzburg, ? Vale sim, hehe. É que é pertinho da fronteira com o sul da Alemanha, ent
ão peguei um trem de manha e voltei de noite. Tem uma feirinha bem bacana em Salzburg, com muitos tipos de comida, e eu optei por um galetinho de frango frito. Bem brasileirão, ? Talvez se tivesse passado mais tempo por lá e me distanciado um pouco da Alemanha, tivesse provado algo diferente. Mas fica pra próxima.


Espanha

Mis amigos, a Espanha é uma delícia, em vários sentidos. Fiquei mais em Barcelona mesmo, e como a grana de estudante intercambista é curta, o que reinou foram os fast foods durante a minha estada por lá. Mas é bem bacana ir nos barzinhos dos becos de Barcelona e pedir uns nachos, bebendo uma "Estrela". Eu recomendo.




Grécia

Aaaah, a Grécia. O país mais apaixonante de todos que visitei. Tive a super sorte de fazer amizade com uma grega gente boa demais, chamada Nadia. Ela me convidou pra passar uns dias na casa dela, em Thessaloniki. Mal cheguei de viagem e o pai dela estava assando milhos no jardim! Coisa mais simpática. Depois fomos pra casa de praia dela, em Halkidiki. Mamãe grega cozinhando é TUDO DE BOM. Peixe frito, macarrão, tudo muuito gostoso. Mas o que eu não esqueço é o queijo Feta (de leite de cabra). Lá eles comem queijo com tudo. E pão também. Pão no jantar, com uns pedaços de queijo. Pão no almoço também, e lá está o queijo. Eles comem muito em cada refeição, e jantam bem tarde. Só não são um bando de balofos porque praticam muito esporte. Essa minha amiga chegou a ser atleta de corrida.
Mas o tal do queijo... sabe queijo fresco, daqueles de fazenda? É tipo isso, só que mais salgado e mais consistente. Não é duro, ele vai derretendo na boca. Ah, só provando mesmo pra ver. Meta de vida é voltar lá e me entupir dessa maravilha.

Quem tiver memórias digestivas dos lugares por onde passou, compartilha aí! Afinal, comida e viagens são duas das melhores coisas da vida!

ps: você pode conferir a entrevista com a Renata Vasconcellos aqui .

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Das lembranças finais

(revivendo o blog com uma temática diferente da proposta, mas pertinente ao meu momento)

Quando era mais nova, me orgulhava em dizer aos coleguinhas que tinha o privilégio de ter todos os meus avós vivos e por perto. Visitava-os religiosamente aos domingos. Aos 18 anos, então, perdi minha avó Alice. Nunca havia convivido com a morte de parentes. Um choque, uma tristeza inexplicável e uma dor que se alastrou por anos na figura triste de meu avô Castro, que, viúvo, chegou a receber proposta de duas senhoras da igreja para morarem juntos, mas se recusou afirmando ser "homem de uma mulher só e fiel à dona Alice até a morte".

Nos últimos 22 dias perdi, então, meus dois avôs. Uma daquelas coisas que você, por mais que tenha fé, não deixa de questionar. "Precisava disso mesmo, meu Deus? Dois no mesmo mês?".

Agora tenho apenas uma vovózinha, daquelas bem cocotinhas mesmo, e me corta o coração vê-la triste por ter perdido o companheiro de 66 anos de casamento.

Um dos meus avôs, o que ficou viúvo da Dona Alice, faleceu ontem, 4 anos depois da morte de sua amada esposa - a quem de fato foi fiel até a morte. Descansou e foi se encontrar com ela, naquela hipótese que as pessoas tristes insistem em crer para ver se a dor ameniza. E então eu comecei a me lembrar dos últimos momentos que vivi com dois avôs e minha avó que já são falecidos, e percebi algo em comum entre eles: assim como a vida que eu tive perto deles e a sorte de tê-los conhecido e com eles convivido, meus momentos finais ao lado de todos foram bem especiais. Resolvi não confiar na minha memória (apesar de duvidar que me esquecerei deles) e escrevê-los.



1. Há dois meses palavra alguma que fizesse sentido saía de sua boca. O olhar só dizia que ela estava perdida, como nunca estivera em seus 82 anos de vida. Esqueceu-se dos netos, dos filhos, só restou-lhe o companheiro de mais de 50 anos de convívio. Mas todos ao redor se lembrariam sempre de sua voz mansinha e dos pães de queijo pequenos, macios e assados no ponto exato entre o branco e o mais moreninho. Também das gelatinas e dos copos, que ela teimava em encher só até a metade, pro desespero dos netos ávidos por um pouco mais de refrigerante. Todos insistiam em vê-la, mesmo que ela não visse mais ninguém. Em pedir bença, mesmo que ela não conseguisse mais retribuir com "Deus te abençoe".

Um dia, sua casa não era mais um ambiente seguro e foi para o hospital. Todos continuavam insistindo em visitá-la e conversar com ela, mesmo que ela nada respondesse. Um dia, eu, que era uma das netas insistentes, entrei no quarto de hospital da Dona Alice. Cheguei perto e encontrei seu olhar. Percebi sua fraqueza e me enfraqueci, saindo de perto da cama onde ela estava deitada. Uma tia reparou, então, que ela me seguiu com os olhos. Pediu que eu voltasse pra perto dela. Engoli a fraqueza, voltei e parei ao seu lado. Peguei sua mãozinha magra e trêmula, que estava quebrada em decorrência da última queda. Ela olhou para a mão quando a peguei e olhou pro meu rosto. Disse baixinho „bença vovózinha“ e ela respondeu como que suspirando „Deus te abençoe“. Todos no quarto se assustaram e ficaram sem reação. Um momento de lucidez surgiu, em meio a meses de submersao, de Alzheimer. Chorei baixinho e dei um beijo em sua testa. Foi o último dia que eu vi Dona Alice com vida. Dois dias depois, em agosto de 2006, ela nos deixou. Mas minha vida seguiu e segue ainda com sua milagrosa benção final.



2. Aquela tosse insistente persistia por meses. Sua fala raleava e já não reconhecia os seus. A Dona Maria era sua única e maior referência, ainda que ela fosse aquela senhorinha fofa e baixinha. Sua aparência fraca não condizia com aquele senhor que, do alto de seus 80 e tantos anos, ainda insistia em capinar o lote. O câncer de pele no nariz, diagnosticado depois de anos de lida na roça, foi a gota d'água para que os filhos o proibissem de trabalhar no sol. Mas ele morava numa chácara e de lá só saía morto, bradava. E era os filhos virarem as costas que lá ia o seu Zé cuidar das plantas do jardim, no sol. Aceitou, ao menos, usar um chapéu. Tinha disposição de invejar os netos mais novos e, aos nossos olhos, sempre foi forte como uma rocha. Aos 90 anos, quando a anemia tirou dele as forcas que precisava para trabalhar em seu quintal, ele mergulhou no sedentarismo e desde então nunca mais foi saudável. Comia muito pouco, esquecia as coisas, trocava nomes e não queria mais sair de casa. Os netos, que eram muitos, faziam questão de ir pedir bença dizendo "vovô" em seguida, de modo que ele, de antemão, entendesse que eram seus netos, ainda que não soubessem filhos de quem eram, ainda que não lembrasse mais dos próprios filhos. Não esquecia, no entanto, da dona Maria. Um dia, sentei ao seu lado no sofá e perguntei como ele estava. Respondeu que estava bem, mas que tinha que trabalhar. Em seguida, completou perguntando se eu morava em São Paulo. O lembrei de que morei fora, sim, mas na Alemanha, e não em São Paulo. Um tempo depois vovó entrou na sala e ele disse "Maria, ela morou em São Paulo, cidade grande". Em sua cabeça, talvez ainda estivesse morando na pequena Pimenta, Minas Gerais, onde ele nasceu e conheceu Dona Maria. Vovó Maria sorriu e disse que eu tinha morado no estrangeiro. Ele tossiu. Aquela tosse que insistia desde que eu tinha voltado, em agosto do ano passado.

Certo dia, vovó acompanhou vovô Zezé em uma consulta médica. O médico o achou fraquinho demais e resolveu interná-lo, "para facilitar os exames e não ter que ficar indo e vindo". Fui vê-lo no hospital. Sem a dentadura, era quase impossível entender o que dizia, mas não me importava em me esforçar. Entendi que queria sair da cama e dar um passeio. Fomos andando, devagar, carregando a bolsa de soro fincada em sua veia. Demos algumas voltas nos corredores do hospital. Então acabou o horário de visita e ele foi dormir. Vovó veio comigo pra casa, ela precisava descansar para cuidar dele de dia. Algum dos filhos dormiria lá com ele. Ela não queria, "o Zé não fica sem mim", protestou. Mas acabou entendendo que ela, também idosa, precisava descansar. No outro dia, fui apenas buscar minha mãe. Entrei no quarto de hospital e ele dormia, tranquilo, respirando profundo. Dei um beijo em sua testa e fui embora. No outro dia, voltei do trabalho, almocei, senti um taquicardia no peito e a notícia chegou pela boca do meu pai - "seu avô não resistiu".



3. As peripécias como vendedor porta a porta Goiás adentro, ainda nos tempos que Goiânia era Campinas, eram as histórias preferidas do sr. Deocleciano, nome do qual tomei conhecimento apenas aos 15 anos de idade. Ele era simplesmente o vovô Castro, filho de espanhol. Quando pequena, adorava dizer que era da família dona do 5 estrelas Castro's Hotel (coisa que, financeiramente falando, até que cairia bem) ou que era sobrinha neta do Fidel Castro. Vem dele o sobrenome que eu uso para assinar hoje em dia as matérias que escrevo ou os roteiros que fecho como repórter e produtora de jornalismo.

Pequeno e gordinho, tinha a cabeça branquinha e os olhos claros. Um típico vovô, daqueles que você tem vontade de abraçar pra sempre. Era alegre e adorava ter todos os netos em casa. Até que perdeu sua esposa, vovó Alice. Primeiro, para o Alzheimer. Segundo, para a morte. Não escondeu em momento algum sua tristeza e nos anos seguintes, sempre que perguntavam como ele estava, o máximo que falava era um „é, estou indo “. Feliz, sem a Dona Alice, ele não seria mais capaz de ser. Foram quase 5 anos no esquema assistir TV, dar uma volta no quarteirão por dia e receber visita de filhos e netos, numa sobrevida em que nada o animava. Só sorria no Natal, atendendo a pedidos para tirar fotos. Dona Alice morreu e com ela foi sua alegria. Aquilo doía em todos nós. Ultimamente, quando as visitas acenavam que iam embora, ele afirmava que precisava de carona pra voltar pra casa. Não reconhecia aquele apartamento como seu lar. Apesar de não se lembrar do que havia falado há poucos minutos, não havia se esquecido de algumas palavras em espanhol e em inglês, que aprendeu com a filha professora. Às vezes nos cumprimentava com um "how are you"?. Respondíamos e devolvíamos a pergunta e nada mais do que um „well, I'm hm...“ e sinalizava um mais ou menos com as mãos. Teimei em não ensiná-lo que mais ou menos é "so so" em inglês. Queria muito vê-lo happy de novo, mas não consegui.

Fui visitá-lo como sempre fazia aos domingos e, enquanto ele tomava um chá em sua poltrona vermelha, assistindo Domingão do Faustão, reparei em seu relógio. Parecia bem pesado. Perguntei a ele se não incomodava. Ele tirou e disse „pega, é pesado mas eu gosto dele. É bonito“. O relógio realmente pesava.

Fui embora com uma certeza forte de que não deveria falhar em visitá-lo mais. Ele ainda se lembrava de mim e não queria que ele se esquecesse. No outro domingo, porém, tive plantão na rádio em que trabalho e o cansaço me fez preferir ficar quieta em casa. "Durante a semana eu vou". Fui mesmo, mas dessa vez fui vê-lo no hospital, depois que foi internado na madrugada do feriado da padroeira de Goiânia. Pancreatite, e uma dor muito forte, que ele já vinha sentindo, mas os médicos insistiam na teoria de que eram apenas gases. Não era. Fui vê-lo no quarto de hospital. Parecia bem e queria levantar o tempo todo, mas não podia. Comentei com uma tia que sua aparência era boa, e ela me informou que aquilo era o efeito dos remédios fortes que ele estava tomando para cortar a dor. Eu não devia me alegrar pelo que via: era tudo “medicamentosamente forjado“. Antes de ir embora do hospital, cheguei minha mão perto da boca do Castro. Ele me olhou sem entender e eu disse "dá um beijo na minha mão, vovô, o sr nao é um gentleman?". Ele soltou um "aah" de compreensão, beijou minha mão e riu. Um riso que eu nãovia há 4 anos. Retribui com um beijo na testa e saí. No outro dia, agilizei meus trabalhos para poder visitá-lo quinta a tarde, mas na quinta de manhã recebi por telefone, na voz do meu irmão, a notícia do falecimento do meu Castro, 21 dias depois do falecimento do meu vovô Zezé. Vovô Castro foi sepultado no mesmo jazigo que vovó Alice, e minha esperança é de que ele esteja agora matando toda a saudade que ele sentiu dela nesses últimos 4 anos.



Apesar de tudo, sou uma menina de muita sorte. Muitos não chegam a conhecer os avôs/avós, ou moram longe deles, ou não os amam como eles deveriam ser amados. Eu tive a sorte de conviver 18 anos com todos eles, 23 anos com meus avôs e, se Deus quiser, conviverei mais alguns anos com minha vózinha Maria, dando todo apoio do mundo que ela precisa nesse momento. Terei lembranças boas pro resto da minha vida e fico tranquila de saber que todos eles viram filhos e netos crescerem e progredirem na vida. As minhas duas famílias, paterna e materna, são numerosas e nunca faltou amor a nenhum dos quatro. Vi vovó Alice no caixão, mas a imagem do último "Deus te abençoe" é a que ficou mais forte, seguida de sua figura de cabelos dourado escuro, com avental, tirando uma fornada de pão de queijo pra alegria dos netos. No velório dos meus avôs, optei por não ver seus corpos, para manter as imagens aqui narradas mais fortes em minha memória. E elas estão aqui, fortes como nunca. Como diz uma das músicas religiosas mais tristes e mais belas "Não temas, segue adiante, e não olhes para trás. Segura na mão de Deus, e vai."


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

(Não) fujam para as colinas!

O que acontece com tooooda aquela neve branquinha e fofa quando ela derrete?? Eu sempre me perguntei isso, até ir pra Alemanha. No início, é assim: tudo muito lindo!

Jardim da Katholische Universität Eichstätt
Foto por Laure Teigny


Ok, talvez não para os donos dos carros, hehe...

Foto por Laure Teigny

Aí aquele amontoado de neve, que se forma na porta da sua casa, tipo esse:

Foto por mim mesma

...deixa de ser uma coisa convidativa pra um pulo em cima ou um boneco de neve e começa a derreter, e, se for na beira das calçadas, pior ainda: vira lama preta, por causa da fumaça que sai dos carros.

Neve derretendo na calçada.
Foto minha.


Isso na melhor das hipóteses. Na pior delas, acontece o que aconteceu recentemente aonde eu morei, em Eichstätt, sul da Alemanha:


Hochwasser: inundação.



Patos e cisnes no que antes era grama. Menino no banquinho que ficava há uns 5 metros do leito do rio.

Estacionamento, consideravelmente distante do rio Altmühl
Fotos por Johann Ribette


Isso não chegou a acontecer quando eu estava lá, mas a neve derretida virando lama e deixando as ruas muito perigosas e escorregadias, isso eu vi.

E em Frankfurt diversos pontos também ficaram alagados por causa da neve derretida:




Fotos de Miriam Weber


É, a neve branquinha e romântica também tem todo um lado sem glamour. Mas antes inundação do que avalanche de neve, né? Portanto, se nevou demais, não fuja para as colinas!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Círculo de trocas

Há muito ela não é praticada e já se tornou fora de moda por aqui. Mas acredito que todos ainda se lembram do que é a política da boa vizinhança, ? Eu te ajudo no que você precisa, você me ajuda caso eu precise também. E todos ficam felizes! Mas com a chegada do dinheiro, isso fica cada dia mais raro de se encontrar. Geralmente as pessoas que precisam de algo recorrem sempre a alguém especializado ou já perguntam "quanto você cobra pra fazer tal serviço pra mim?". É tudo na base do dinheiro e a política da boa vizinhança vem sendo cada vez mais extinta.
Pois bem, isso não é unanimidade no mundo todo. Em alguns lugares da Alemanha, por exemplo, a política da boa vizinhança é quase unanimidade e é extremamente bem organizada (alemães são organizados em tudo!), rola até uma "bolsa" de ajudas!
O tema surgiu em uma das minhas aulas de alemão por lá. Sempre tem aquele texto didático pra interpretar depois, e o da vez eram os "círculos de troca", ou em alemão, "Tauschringe" (existe também uma sigla em inglês, a LETS - Local Exchange Trading System). Algumas cidades alemãs têm uma forte tradição em círculos de troca. Essa reportagem, por exemplo, fala do exemplo de Hannover, onde funciona um círculo de troca bem organizado, com 250 integrantes. Na abertura da reportagem, a jornalista cita que o desemprego afeta mais de 4 milhões de alemães, que procuram meios alternativos para seguirem suas vidas sem gastar muito dinheiro, oferecendo o que podem e conseguindo favores em troca. Em Hannover, é tudo contabilizado para não acontecer de uma pessoa sempre pedir favores e nunca oferecer nada em troca. A diferença é que a conta não é em dinheiro, e sim em "talentos", o "dinheiro" do sistema de trocas. No exemplo da reportagem, a mulher que trabalha com informática e tem como hobby a jardinagem, vai receber 15 talentos por uma hora de jardinagem no jardim da outra senhora. Tudo anotado e contabilizado em uma espécie de conta. Depois, a jardineira das horas vagas pode pedir uma hora de favores para outra pessoa, gastando assim os seus talentos acumulados.
As duas citam a vantagem não apenas financeira da troca, mas também a possibilidade de ser útil e retomar a política da boa vizinhança, além da possibilidade de conhecer novas pessoas e fazer amizades. Em Hannover, o pessoal do Tauschring realiza também, periodicamente ,os chamados "Flohmarkts", ou os mercados de pulgas, sobre os quais eu já escrevi aqui. Mas, nesse caso, o pagamento não é feito em dinheiro, e sim nos chamados "talentos". Tudo é pago com os "talentos" acumulados nos serviços prestados. Como se fosse uma economia paralela, sem o dinheiro comum.
Todo tipo de trabalho pode ser oferecido: conserto de bicicletas, aulas de línguas, de música, reforço escolar, passar roupas, limpar casa, cozinhar, cuidar do cachorro, ser babá, lavar vasilhas, praticar esportes em conjunto, ajudar a organizar o guarda roupa, etc. Isso faz com que pessoas de todas as idades e classes sociais, que tenham algum tempo para se dedicarem, possam participar. Na reportagem, uma senhora oferece até massagem, enquanto duas adolescentes passam roupas.
Fato é que todo mundo tem algo pra oferecer, e por isso essa troca é possível. Talvez o que falte é tempo, já que vivemos sobre a prerrogativa do "tempo é dinheiro". Na Alemanha, ao menos nas pequenas cidades, percebi que o tempo dedicado ao trabalho é menor do que aqui. Os supermercados fecham aos domingos e funcionam até às 8 da noite de segunda à sábado, por exemplo. Os escritórios começam a funcionar, em geral, mais tarde do que aqui (por volta das 8:30, 9 horas) e às 17hrs estão praticamente todos fechados. A impressão que eu tinha é que os alemães são mais concentrados e levam menos tempo no trabalho para render o mesmo que rendemos aqui. Talvez por isso eles tenham mais tempo livre também, e se dedicam a atividades como essa.
Eu achei a ideia muita bacana, prática e totalmente viável. Isso pode ser feito inicialmente no seu próprio ciclo de amizades mesmo. Por exemplo, eu posso dar aulas de alemão ou inglês em troca de aulas de violão, que sempre quis aprender.
A invenção não é alemã, afinal, antes do dinheiro tudo funcionava desse jeito, mas é interessante observar como esses círculos de troca são institui coes organizadas e realmente ativas por lá. Mais um bom exemplo que podemos aprender com eles.
E você, tem algum talento a oferecer?



Logo do Tauschring de Berlim






Logo de Wennigsen


e a minha logo preferida, do Tauschring de Bad Waldsee

domingo, 2 de janeiro de 2011

Schokolaaade!

É assim que se escreve chocolate em alemão. Como no inglês, também existem cognatos, mas nem precisa se animar muito: são poucos (mas até hoje, não tive notícias de nenhum que seja falso).



O bonequinho de neve (Schneemann - neve + homem) e o papai noel dentro da cestinha foram enviados por dois amigos (fiquei toda emocionada quando recebi a caixa e li que o remetente era da Alemanha, LINDOS!!) em uma caixa com outras guloseimas típicas, como os Lebkuchen, que são bolinhos que lembram muito nosso pão de mel. Não sei se são tradicionais de toda a Alemanha ou só da região da Baviera. São gostosos também, mas definitivamente, não são tão gostosos como esses chocolates da foto. Eles são de uma fabricante suíça, a Lindt, e a fama que esses chocolates têm em todo o mundo é mesmo muito justa. Eu nunca comi chocolate mais gostoso do que os suíços, que pra minha felicidade pululavam nas prateleiras de todos os supermercados alemães com precinhos supimpas!! Eu comprava muito os meio amargos, meus preferidos. Uma barrinha com 100g custava menos que 1€. O sonho de qualquer chocólatra! Olha o preço de um desses aqui no Brasil! Sem contar que não são facilmente encontrados por aqui. E é por isso mesmo que eu estou com muita, muita vontade de comer meus bonequinhos de chocolate Lindt, mas ao mesmo tempo estou com muita dó de acabar (e estragar a embalagem fofa, esse bonequinho de neve é lindo!!)
Quem for chocólatra e for pra Europa pode ter certeza de que terá um tempo "cholocaticamente" feliz por lá! Aproveita e traz uns na mala pra mim!
Outras guloseimas que tinham precinho de banana por lá (aliás, bananas lá eram caras e secas, sem gosto - muitas vinham transportadas do MÉXICO! Imagina a viagem...):

Pringles: a melhor batatinha de todas é austríaca. Como a Áustria é ali do lado da Alemanha (ou embaixo, dependendo do ponto de vista), ela estava disponível nos supermercados por 1,50€. Já peguei promoções e paguei 1€!!! Sem contar as genéricas, que lá eram bem gostosinhas também e podiam ser adquiridas por menos de 1€. Não vivia sem! Da última vez que procurei aqui, achei as benditas por quase 10 reais!! Lembrando que quando eu estava lá, o euro valia em média 2,30.



Nutella: ou yeaah, além dos chocolates suíços, eu também consumia um potinho de 170g de nutella por semana! Na colher mesmo. Delícia! Custava pouco mais de 1 euro a nutella original. As marcas genéricas, também bem gostosinhas, custavam de 80 a 90 cents de euro. Nham.


Mas como nem tudo são flores, os amantes de brigadeiro, se não se satisfizerem com os chocolates e nutellas, sofrerão. A latinha de leite condensado (que lá chama Milchmädchen, ou seja, leite mocinha, de fato) não é vendida em todos os supermercados e é cara: 1,70€. Fiz algumas vezes, apresentei a receita pra outros estrangeiros, uns acharam divino, outros acham que é muito doce. Mas ouvi dizer que é só sucesso na Bélgica, graças à Sandrina, que morou comigo, AMA doces e levou a receita pra lá!
Agora resta saber quanto tempo eu vou resistir à tentacao e nao atacar meus bonequinhos fofos e deliciosos de chocolate Lindt. Tarefa árdua!