sábado, 21 de novembro de 2009

"Nunca mais"

Certas coisas simplesmente têm de ser feitas, mesmo que soe clichê. Uma visita a um campo de concentracao da Alemanha nazista é uma dessas coisas quase obrigatórias para quem mora por aqui, permanentemente ou nao. Apesar do esforco coletivo que os alemaes fazem para mudar sua imagem mundo afora, o episódio do III Reich vai ser sempre parte de sua história, uma parte triste, muito triste, mas que nao pode simplesmente ser negada, e nem deve ser esquecida. Sabendo disso, assim que cheguei na Alemanha e fiz algumas amizades, combinei visitar o campo de concentracao de Dachau, que fica uma estacao de trem antes de chegar em Munique. Eu queria ir para Auschwitz, o mais famoso deles, mas ele fica na Polônia, enquanto Dachau fica há uma hora de trem de Eichstätt.
Eu sabia que nao seria um dia divertido. Sabia que seria um passeio mórbido e triste, mas sentia a necessidade de fazê-lo. Minha mae nao reagiu muito bem quando soube que, no dia seguinte, tomaria o trem rumo à Dachau com uma amiga brasileira e duas belgas. 'Tem certeza que quer ver isso Ana?' Sim, eu tinha certeza.
A certeza nao estava tao absoluta assim quando acordei às 8:30 da manha. Cansada e ainda ressaquiada da festa na qual tinha ido dois dias antes e que tinha me detonado total, pensei seriamente em mandar uma mensagem pras meninas dizendo que nao iria. Olhei pela janela, a neblina estava ainda mais densa e branca do que de costume. Nem sinal de sol. Me senti um pouco mais desmotivada, porque o cansaco ia juntar com o clima nebuloso e a atmosfera de tristeza e eu tinha certeza que seria um dia depressivo. Mas a sensacao de obrigacao falou mais alto. Eu nao poderia perder essa oportunidade, e talvez já nao encontrasse depois quem topasse ir comigo um outro dia. Sozinha eu sabia que nao encararia. Tomei um banho rápido, um iogurte, juntei umas frutas e água na bolsa e saí correndo pra estacao de trem, aonde encontrei as meninas já preocupadas com meus 5 minutos de atraso. No caminho, uma sensacao estranha... é estranho saber que você está indo de encontro a algo chocante. E está indo por querer. Nao sei explicar. Mas a viagem de uma hr e poucos passou rápida. Chegamos à cidade de Dachau, descemos na estacao, constatamos mais uma vez a hegemonia do Mc Donalds no mundo (era a lanchonete que tinha na estacao), e pegamos o ônibus lotado de turistas do mundo todo que levava ao campo de concentracao em si. Nao esperava que ele ficasse no meio da cidade. Na verdade, a cidade cresceu em volta dele, e constatar que existem casas cujas janelas dao de cara para o pátio do campo de concentracao me causou o primeiro arrepio de todos os demais que eu sentiria naquela tarde. Como pessoas conseguem morar ao lado de um ex campo de concentracao nazista?

Na entrada, ao lado do ponto de ônibus, uma reflexao escrita em alemao e inglês.

"Dachau - o significado desse nome nunca será apagado da história da Alemanha. Ficará por todos os campos de concentracao que os nazistas estabeleceram em seus territórios."

Fizemos um breve piquenique antes de entrarmos de fato no memorial. Depois de comermos, fomos para a sala de informacoes, que fica ao lado de uma livraria temática. Um espaco moderno, com portas automáticos e arquitetura arrojada. A natureza do lugar era também muito bonita. O clima, ao meio dia, estava agradável, ensolarado e nao muito frio. Entre as opcoes de guia, optamos por um aparelho de audio, no qual digitamos um número, apertamos play e ouvimos a história do que estamos olhando. Moderníssimo. Apresentamos à simpática senhora do balcao de informacoes as nossas carteirinhas estudantis e pagamos 2€ cada. Deixamos documentos como garantia de que estaríamos de volta com os aparelhos até às 5 da tarde, horário de fechamento do memorial. Escolhi o áudio em ingles e recebi os panfletos com mapas do local e o número dos guias de áudio. Para chegar ao portao do campo de concentracao, precisamos andar um pouco pelo caminho de pedrinhas brancas e àrvores bonitas. A atmosfera, por incrível que pareca, é de paz.
Atravessamos a pequena ponte que fica sobre um riacho que cerca toda a extensao do campo e chegamos ao portao, onde está escrito ARBEIT MACHT FREI, ou seja, o trabalho liberta.

Dachau era denominado como campo de trabalho, nao de extermínio.
A primeira impressao: é um lugar, antes de tudo, bonito. Existe sim uma atmosfera de seriedade no local, mas isso porque todos que estao ali sabem onde estao... Mas se ninguem avisasse, o local, à primeira vista, poderia ser encarado como uma escola enorme. Os prédios remanescentes sao brancos, extensos, e de apenas um pavimento. Alguns painéis com fotos e explicacoes sao espalhados diante de monumentos e na entrada dos prédios. Em um muro, outro pensamento escrito em várias línguas (mas nao em português):

" Que o exemplo daqueles que aqui foram exterminados entre 1933 e 1945 por resistirem ao nazismo ajude a unir os que vivem em nome da paz, da liberdade, e do respeito ao semelhante."

Mais adiante, um monumento enorme em metal escuro representa o sofrimento daqueles que passaram por Dachau. O aparelho de áudio me esclareceu que o idealizador do monumento foi um dos sobreviventes de local.



À direita, um monumento na parede revela vários triângulos coloridos de ponta à cabeca. Nao entendi o que significavam. Pouco mais à esquerda, em outro painel multilinguístico, lê-se:



"NUNCA MAIS"

Entramos no museu, que fica no prédio da administracao. Cerca de 6 salas diferentes sao lotadas com painéis com imagens, trechos de depoimentos, fotos e documentos reais de pessoas que por ali estiveram, prisioneiras ou militantes nazistas. Em cada sala, uma explicacao via áudio. Os painéis eram distribuídos por temas e contam a história de Dachau desde a sua construcao até o seu fechamento. Dachau foi o primeiro campo de concentracao construído na Alemanha, o único que manteve-se em funcionamento durante os 12 anos seguidos de duracao do Regime Nazista. Ficou famoso pela rigidez de disciplina no local, tanto que durante um ano foi evacuado para dar lugar a tropas de guardas de outros campos de concentracao, que foram aprender 'métodos de exigência de disciplina dos presos' com os guardas de Dachau. A primeira informacao estarrecedora de muitas outras: a chegada no campo de concentracao. Cada caminhao carregava 90 presos, 45 de cada lado. Um espaco no meio deveria permanecer livre para que os dois guardas da SS vigiassem o local. O cheiro de urina e fezes era insuportável. Muitos presos morriam durante a viagem, e seus corpos permaneciam no caminhao até a chegada em Dachau. Contagens diárias eram feitas no pátio do campo, sobre quaisquer condicoes climáticas. Quando algum preso morria, seu corpo era carregado pelos companheiros para a contagem também. Quando a contagem nao batia, alguns presos eram torturados e todos eram obrigados a permanecer horas de pé até que se esclarecesse o ocorrido.
Em uma das salas, cada painel mostrava o perfil dos presos. Judeus, homossexuais, presos políticos, estrangeiros, opositores do regime nazista em geral. A categoria que mais me chamou a atencao foi a de 'presos incomuns'. Pela descricao, eram pessoas que nao se enquadravam em nenhuma das outras categorias, mas eram presas 'preventivamente', pois poderiam vir a oferecer riscos ao regime nazista. Uma explicacao nao muito convincente, ou seja, pessoas que eram presas simplesmente porque os guardas queriam prendê-las. Nao iam com a cara delas, simples assim. Cada categoria de preso tinha no uniforme um símbolo que os identificava: triângulos coloridos. Agora sim eu entendia o significado do monumento do lado de fora. Os homossexuais, por exemplo, tinham o triângulo rosa pink (e essa foi a única cor que eu consigo me lembrar agora). Em um painel que mostra fotos dos dirigentes de Dachau, um trecho do que um deles disse aos prisioneiros que chegavam:

"Aqui vocês nao tem direito nenhum, nem dignidade nenhuma, e serao tratados exatamente como o bando de merdas que vocês sao"

Os presos eram obrigados a cumprir jornadas de trabalho pesado de cerca de 12 horas diárias. Aqueles que por algum motivo nao conseguiam trabalhar eram os primeiros a serem mortos. Tratados como inúteis, recebiam menos comida do que os outros (se é que a sopa que eles comiam poderia ser chamada de comida). Os doentes recebiam precário tratamento médico. Muitos simplesmente eram deixados morrendo à míngua, o que explica a quantidade assustadora de fotos de pessoas cadavéricas. À medida que a cronologia dos fatos ia avancando, mais eu me aterrorizava. As imagens e historias ali escritas ou narradas eram tao chocantes que eu cheguei a forcar certa apatia, tentei pensar que tudo era obra de ficcao. Essa ilusao proposital me ajudou a suportar o turbilhao de informacoes desconcertantes. Mas nao havia como nao concordar com o pensamento de um jornalista norte americano que visitou o campo de concentracao (nao entendi como ele foi autorizado a entrar):

"É impensável que, no século 20, em pleno coracao da Europa, acontecam sob os olhos do Estado barbaridades como essa"

Foi como um chute no estômago que me lembrou que todas aquelas cenas eram reais, e que tinham acontecido há menos de 70 anos. Pensei na quantidade de velhinhos que tem aqui em Eichstätt, e na Alemanha como um todo, e quantos deles teriam vivido naquela época, teriam ido para esses campos ou teriam visto seus pais irem...
Um dos painéis que mais me chocou foi o de experimentos científicos. Os presos eram cobaias de diversos testes com medicamentos desenvolvidos para uso na guerra. Numa sequência de fotos, um homem tem injetado na veia uma substância que causa a formacao de um coágulo cerebral. Para alguém que já enxerga com reservas o teste de medicamentos em animais, ver aquelas fotos de pessoas sentindo dores extremas e sendo deixadas morrendo à míngua praticamente me paralisou.
No painel que mostrava o trabalho dos presos, descobri que a maioria ajudava na cofeccao de armas e municao para a guerra. Os próprios presos tinham que construir as armas e municoes que ajudariam os nazistas a propagar seu regime de ódio e racismo. Tive um impulso de ler todos os livros possiveis com relatos de sobreviventes, para entender o que se passava no psicológico deles. É inimaginável. Às 2 horas assistimos a um documentário sobre Dachau, de 20 minutos de duracao, áudio em inglês. Foi a parte mais difícil do passeio.

Eu já vi muitos filmes sobre o tema nazismo, mas nenhum deles chegou nem perto de me tocar tanto quanto esse documentário me tocou. Talvez porque os filmes que eu assisti eram todos, apesar de baseados em fatos reais, ficcao. Ficcao porque as imagens nao eram reais, eram reproducoes. Assistir a montagens de fotos reais e a cenas gravadas durante o funcionamento do campo de concentracao é MUITO diferente. O desespero ou até mesmo a apatia nos olhos de quem já sofreu tanto que nem consegue mais se desesperar sao chocantes. Eu nao chorei. Mas eu nao sei medir a profundidade da minha tristeza. Estava chocada demais pra chorar. Refleti que a única coisa em toda a minha vida que me fez me sentir mais triste do que enquanto eu assistia ao documentário foi ver a decadência da minha avó durante dois anos até a sua morte, em 2006. Ela tinha Alzheimer. Só ver uma pessoa que você ama se esquecendo de si própria e do mundo ao seu redor, pouco a pouco, pode ser mais triste do que ver centenas de pessoas morrendo à míngua, pilhas de corpos cadavéricos e nus sendo transportados em carrocas e jogados em valas comuns, quando a quantidade de mortos era tanta que o crematório construído no local nao tinha mais capacidade. Imagens de doentes, pessoas catando piolhos nas próprias pernas e a imundície do local eram combinadas com a narrativa cronológica dos acontecimentos. Gracas ao documentário, descobri que existia uma câmera de gás em Dachau, mas que ela nunca havia sido usada, e nao se sabe o motivo. Quando as luzes se acenderam, um silêncio palpável tomou conta da sala, pessoas demoraram a se levantar. Deviam estar, como eu, tentando se recompor depois de 20 minutos de choque e imagens reais. Nao vou me esquecer do rapaz catando piolhos na própria perna, do monte de gente cercando um barril em busca de uma colheirada que fosse de sopa e do relacoes públicas do regime nazista explicando em um discurso que os campos de concentracao ajudariam a erradicar da Alemanha todos aqueles que nao tivessem o sangue puro, que tivessem crencas 'duvidosas' e comportamento 'inadequado'. Usou o termo Darwinismo Social e preservacao da 'espécie pura' e foi aplaudido ruidosamente por uma platéia de ignorantes. Depois do filme, mais alguns painéis. Cartas de feliz dia das maes e votos de feliz ano novo, escritas pelos presos. Poemas. Existia uma orquestra dentro de Dachau, que formou-se ilegalmente e, quando foi descoberta, foi obrigada a tocar nas sessoes de tortura pública que presos rebeldes sofriam, pendurados pelos pulsos em ganchos no teto; deitados em um móvel de madeira, em que o preso fica 'de quatro' e apanha nu com vara de bambu ou quando eram obrigados a entrar em banheiras com água congelante, para testes de hipotermia. Um dos painéis que mais me emocionou foi o paiel da solidariedade. Fotos de presos ajudando uns aos outros, cuidando uns dos outros, bilhetes de apoio... formacao de grupos secretos de oracao, de debate literário e até a construcao de uma biblioteca clandestina. Os guardas nazistas nao pareciam muito inteligentes, o que possibilitava a formacao de grupos de intelectuais presos. Vizinhos do campo de concentracao tentando passar comida pelas cercas. Depois do soco no fundo do estômago, a ponta de esperanca na humanidade, devido ao sentimento de solidariedade ali expressados, mesmo quando a sua situacao precária nao era diferente da do outro. Uma das partes da exposicao que me chamou a atencao também foi um acervo de propagandas e de notícias e recortes de jornais sobre Dachau. A imagem que se fazia do lugar era de um local onde os 'impuros' poderiam se 'desculpar' pelo pecado de serem 'impuros' trabalhando. E muita gente que estava do lado de fora realmente nao sabia o que se passava ali. Eu vi fotos de esqueletos humanos nus tomando banho amontoados uns nos outros. Eu vi fotos de corpos amontoados uns sobre os outros. Eu vi poemas, músicas e relatos de tentativas de manter viva um pouco de cultura. Eu vi fotos de guardas nazistas sorrindo diante de corpos estilhacados. Eu vi o corpo de um homem morto eletrocutado na cerca elétrica tentando fugir. Eu vi foto de um homem comendo uma flor. Eu vi foto de criancas e mulheres grávidas em meio à fome, à imúndicie, ao descaso, à desonra. E eu sei que eu nao vi nem metade do que aconteceu ali, porque 200 mil pessoas passaram por aqueles portoes, e até hj nao se sabe ao certo quantas pessoas ali morreram. O campo de concentracao de Dachau parou de funcionar gracas a uma investida de tropas norte americanas. Revoltados com o cenário que encontraram, os soldados norte americanos protagonizaram o chamado massacre de Dachau. Mataram muitos dos guardas que se encontravam no local, por revolta. Alguns moradores das redondezas ainda acreditavam no que diziam as propagandas nazistas, apesar de muitos já terem comecado a se questionar sobre o mau cheiro, sobre a fumaca negra e fedida, que saía constantemente da chaminé do que eles nao sabiam que era um crematório. Quando os guardas americanos libertaram os sobreviventes, obrigaram os moradores da cidade à olharem com os próprios olhos todos aqueles corpos amontoados e toda aquela podridao. Outra cena do documentário que nunca vou esquecer: uma senhora chorando sem parar por ter acabado de ver uma pilha de corpos amontoada em uma sala (sala na qual eu entrei). Acredito que ela chorava nao 'só' pela tristeza do fato em si, mas pelos anos em que viveu ali ao lado, ignorante de toda essa tragédia. 'Como?', ela devia se perguntar. A mesma pergunta que eu me fiz várias vezes durante o dia. Depois de sairmos do museu (que é enorme e nos tomou a maior parte do tempo), fomos visitar o único pavilhao que nao foi derrubado pelos guardas norte americanos. Eram 34 no total, restaram 2, apenas um aberto à visitacao. Ali era aonde os presos dormiam. Quando entrei no quarto e vi aquele amontoado de madeiras que deveriam ser camas, disse pra Helena: parecem caixas de uma gigantes umas sobre as outras. O banheiro consistia em duas pias enormes em forma de fontes, para uma quantidade indizível de presos, e 8 ou 9 privadas, uma de frente à outra, divididas em duas fileiras. Privacidade? Nenhuma. Depois fomos ao crematório, aonde ficava também a câmara de gás que nunca fora ativada. No caminho, o sino da sinagoga construida em memória aos judeus soou. A atmosfera pesou com o badalar dos sinos. Chegando no crematório, me surpreendi com um jardim LINDO. A beleza da natureza do local ajuda a apaziguar um pouco o choque depois de tanta informacao, mas ao mesmo tempo nos faz questionar: como tudo isso aconteceu aqui? As belgas já tinham se adiantado e nos esperavam sentadas em um banquinho do lado de fora. 'Como é lá dentro?' - 'Terrível'. Preparada pro pior, entrei com a Helena. Entrramos na sala onde ficava a câmara de gás. Como sabia que ela nunca tinha sido acionada, nao me emocionei tanto. Mas uma coisa me chamou atencao. Haviam pequenas janelas de vidro. Será que os guardas pensaram em ficar olhando a morte lenta das pessoas por aquelas janelas? Qual era o sentido da existência daquelas janelas ali? A próxima sala era a de 'espera', onde os corpos esperavam para ser cremados. Nao os que vinham da câmara de gás que nunca funcionou, mas os que vinham dos dormitórios, doentes, famintos, congelados. Pisar no mesmo chao em que milhares de corpos foram jogados me fez arrepiar. Na sala de crematório, à primeira vista, me senti como se estivesse numa pizzaria. Cinco fornos gigantes, com chaminés gigantes, construídos em tijolos. Claro que a imagem da pizzaria me veio à cabeca como um mecanismo de defesa pra esquecer o que eles realmente assavam ali. Quando lembrei, tive ânsia de vômito. Na última sala, mais um espaco para os corpos se amontoarem, principalmente quando a capacidade das caldeiras nao era suficiente, o que nao era raro. Tinha alguma coisa nos poroes, mas turistas nao têm acesso. Talvez seja melhor nunca saber mesmo.

Na saída, um caminho lindo, coberto com àrvores e flores, e de 5 em 5 metros, escrituras em pedras:

"Em homenagem aos anônimos que aqui foram enterrados. Que sua memória nao seja esquecida"

Na frente de uma àrvore majestosa:

"Local de fuzilamento"

Um pouco mais à frente:

"Canal por onde escorria o sangue dos mortos"


Ao escrever agora tudo isso, e recapitular o que vi, nao consigo pensar no que escrever. Assim como, na hora, nao conseguia pensar no que dizer ou pensar. Apenas choque. Apenas silêncio. O meu, o da Helena, o da Lotte e o da Jolien. Nossos silêncios disseram tudo. Nada mais, depois de tudo que vimos, precisava ser dito naquele momento. Mas as palavras escritas em um dos diários achados em Dachau relatam:


"Se eu sobreviver, farei de tudo para nao deixar morrer a memória de todos que aqui estao morrendo. Eles nao podem morrer, nao podem morrer. Se um dia eu nao me lembrar mais deles, e de tudo isso que vivi, nesse dia eu mesmo estarei morto. É minha obrigacao fazê-los, de algum modo, sobreviver"


Nao sei exatamente o que realmente toda essa gente passou. Hoje tive apenas uma idéia um pouco mais clara, assim como quem leu esse meu relato nao tem exatamente idéia do que eu senti. Só quem viveu aquilo pra saber. Só quem esteve em um memorial de um campo de concentracao sabe o que se sente ali. Nao, nao é o clichê que eu disse que achava que era no início desse relato. Por isso eu afirmo que, quem tem a oportunidade, deve ir a um lugar desses. E depois de estar lá, me senti também na obrigacao de, de algum modo, ajudar a fazer todos aqueles seres humanos que ali morreram JAMAIS serem esquecidos, na esperanca de que algo parecido JAMAIS volte a acontecer.


Presos saudando as tropas americanas no dia de sua libertacao

ps: quem quiser ver mais imagens, existem vídeos no Youtube e fotos no Google Imagens, algumas pensei em colocar aqui, mas sao muito chocantes. Basta digitar Dachau em ambos os sites.

6 comentários:

Unknown disse...

puta que pariu, meu estomago vei ate a garganta, eu ja nao gostava de historias nazistas agora entao >/
eu visitei um em sao paulo, e foi chocante tbm, nao imagino como seja a sensacao, e algo que parece tao longe da minha realidade mexe mto comigo...

e como vc lembrou disso tudo? gravou no celular? levou um caderninho de anotacoes..

;T ;*

Daniel Mundim disse...

Profundo, intrigante, chocante. Ler td q vc relatou causa várias sensações q relmente são inexplicáveis. A única certeza q tenho é a de q nós aqui não temos msm a noção do poder desse lugar, q vc sentiu. E sim, td q aconteceu ali deve ser lembrado. A memória é um dos maiores bens do ser humano, e é o q mantém a dignidade de tds q sofreram ali na História. Ótimo post minha querida.

... disse...

Eu sei q nem rola fazer piada sobre isso, mas nem é piada.

A verdade é que se eu entrasse em um campo de concentração eu ficaria olhando para trás toda hora... Imagina se, de repente, aparece um nazista e tranca a porta da câmara de gás, todo mundo lá dentro... tá é louco... hehehehe
Ou seja, eu acho que eu ficaria com muito receio de entrar em qualquer sala e alguém fechasse uma porta hehehehe

No mais, apesar do receio tosco descrito acima, sempre gostei muito de estudar sobre esse tema. E as janelas de vidro da câmara de gás, dizem alguns historiadores, serviam para dizer que era uma "sala de banhos", apenas. Ou seja, pra q os presos, e quem mais visse de fora, não temessem ir pra lá... Aí entrava todo mundo nu, eles trancavam, e abriam o gás enquanto eles esperavam água limpa para tomar banho. E sim, os soldados ficavam olhando pelas janelas. (No filme Olga mostra isso, por exemplo, a protagonista morre numa câmara de gás).

E assim mesmo eu gostaria de visitar esses lugares, pra ver tudo oq já li sobre e coisas do tipo. Passei a gostar do tema desde que li O Diário de Anne Frank (q todo mundo lê hehehehe).

Beijo, mocinha que deixa saudade. =)

Vandré Abreu

Unknown disse...

o daniel arraza no portugues jornalistico do comentario.. qndo eu crescer quero escerver bonito que nem vcs! ;D

Unknown disse...

Nossa Ana, eu nem imagino como eu ficaria depois de ir a um desses campos. Ler o que vc escreveu já é o suficiente pra ficar arrepiada, enojada, revoltada, com muito mais ódio desses nazistas imbecis. É o tipo de coisa que nem tem como expressar..

Cristina Roriz disse...

Silêncio...