domingo, 29 de novembro de 2009

Tooooor!

Depois de uma semana complicada, em que a síndrome de intercambista (certa tristezinha que muitos intercambistas têm quando percebem que estao realmente longe de casa e de todos que gostam, e que precisam se virar sozinhos pois ninguém vai se virar por eles, etc etc) bateu com forca, guardei minhas esperancas de melhorar o meu humor para o jogo no Allianz Arena. Eu gosto de futebol, e quem me conhece sabe disso. Nao sou fanática, mas acompanho com prazer. Pra quem nao sabe, Allianz Arena é um estádio que foi construído pra ser uma das sedes de jogos da Copa do Mundo que rolou aqui na Alemanha em 2006. Hoje o estádio é a 'casa' do Bayern de Munique, da primeira divisao do futebol alemao, e também do 1860 Munique, da 2° divisao.
Eu ainda nao sabia desses detalhes, mas eu sabia que, uma vez que eu iria morar um ano perto de Munique, com certeza visitaria aquele estádio ultra moderno que eu via na TV em 2006, que se coloria de noite com luzes azuis e vermelhas. Eu tinha que fazer isso por vontade própria e em nome de todos os meus amigos fanáticos por futebol (que nao sao poucos) que gostariam de fazê-lo.
Quando cheguei na Alemanha, percebi que o David, que mora comigo, gosta de futebol (Sao Paulino!!) e já deixei avisado que queria ir no Allianz Arena. Ele disse que jogo do Bayern de Munique ia ser complicado, porque os ingressos sao caros (algo em torno de 50 € pra cima), mas que se eu quisesse, ele me acompanharia com prazer em um jogo do desconhecido München 1860, o time que ele torce, da 2° divisao. Por mim, tudo bem! O importante era conhecer o Allianz. (E na época, meu querido Atlético Goianiense ainbda era da 2° divisao do brasileiro, portanto, sem preconceitos!) Ele deu uma olhada no calendário e disse que em Dezembro seria bacana!
Dois dias depois, vi o Allianz pela primeira vez, a caminho da Oktoberfest. Imponente, foi o que eu achei à primeira (e rápida) vista.
Um mês depois, almocei com um dos amgos do David, o Martin, no Mensa, o restaurante de universidade. Nos encontramos por acaso e eu comentei alguma coisa sobre futebol. Ele explicou que escrevia para o Mercur, um grupo midiático de Munique, na parte de esportes. Eu comentei, sem muitas pretensoes, que queria ir no jogo Argentina X Alemanha, amistoso previsto pra marco do ano que vem. Ele disse que seria complicado conseguir ingressos, mas talvez conseguiria tickets mais baratos... Gostando do rumo do papo, comentei que queria mesmo era conhecer o Allianz Arena, e expliquei meus planos de ir com o David em um jogo do München 1860. Ele logo se ofereceu pra conseguir ingressos de graca, e claro, eu aceitei.
Uma semana depois a mensagem no Facebook: dois ingressos gratuitos para o jogo do dia 29 de novembro contra o Fortuna Düsseldorf, uma espécie de clássico da 2° divisao. Comentou que ia tentar conseguir mais um ingresso, porque queria ir também. Toda empolgada, encontrei o David depois do almoco e contei as novidades. Mas aí veio o balde de água fria (bem recorrente na minha vida, por sinal): ele estaria na Argentina visitando a irma.
Fudeu, pensei. Mas em seguida ele me acalmou, dizendo que achava que o Martin nao se importaria de ir comigo. Eu nao tinha tanta certeza, afinal, nem éramos tao amigos assim... Mas torci pra que o David estivesse certo. E ele estava. Mandei uma mensagem pro Martim e ele topou ir sem problemas. Aproveitei e pedi um ingresso a mais (oferece a mao e eu peco o braco inteiro) pra Helena ir junto. Ele prometeu tentar.
Na quinta feira passada, estava tranquila no meu quarto, de pijama e óculos de grau, quando a campainha tocou e a Laure disse que era pra mim. Era muito cedo pra Helena já vir pra cá e irmos pra night, mas eu achei que fosse ela mesmo assim e fui recebê-la. Era o Martim. Eu queria enfiar minha cara num buraco, mas tudo que eu consegui dizer foi 'Ops, ich trage mein Pijama!!' (Opa, eu estou de pijama) Ele fez cara de que nao se importava e explicou que nao tinha conseguido outro ingresso, mas que talvez conseguiríamos no dia, e que se nao conseguissemos, nao devia custar mais que 10€. Marcamos de nos encontrarmos 9:34 (ele gosta de números quebrados) na estacao de trem no domingo. Corri e convenci a Helena, que é gaúcha, vegetariana e nao gosta de futebol (mas eu gosto dela mesmo assim) a ir também. Nao foi tao difícil.
A tristeza bateu na sexta e no sábado, e eu me agarrei à expectativa do jogo pra sobreviver (drama). Apesar de empolgada, tive que vencer a preguica que eu tenho sempre ao acordar cedo, e tive que tomar um pouco mais de coragem, porque o termômetro marcava 3° e eu podia ver um pouquinho de neve que caiu a noite ainda nas folhas.. Frio do cao!!
Cheguei na estacao 9:37 (o charmoso atraso brasileiro), compramos o ticket e viajamos felizes e sonolentos pra Munique.
Lá chegando compramos um pedaco de pizza cada, de um italiano que ficava cantando enquanto cortava os nossos pedacos. Eu e a Helena ficamos parecendo duas entregadoras de pizza, esperando na porta do prédio da Mercur (a empresa de mídia) enquanto o Martin corria pra buscar os nossos tickets.
Depois pegamos o metrô rumo ao Allianz, e à medida que mais torcedores iam entrando com suas camisas azuis ou vermelhas, mais empolgada eu ia ficando! Quando ouvi torcedores cantando, láááá no outro vagao do trem, me animei mais ainda!
Descemos já com uma multidao de torcedores, e alguns metros depois, logo que saímos da estacao, lá estava ele... Lindo, moderno e mais imponente ainda.


Pra provar que eu realmente estive lá!

Bom, a vontade que eu tinha era sair correndo e entrar lá logo, pra ver como era dentro e comparar com o Serra Dourada, o Pacaembu e o Morumbi, que sao os estádios que eu conheco. Mas tinhamos que comprar o ingresso a mais, e a fila nao era tao pequena assim, apesar de ser extramemente organizada...

Enfrentamos a fila (leeeeenta), compramos o ticket por 15€ e fomos entrar no estádio, meu coracao palpitando horrores, e eu nem sabia exatamente porquê. Bebi minha água correndo (nao pode entrar com garrafa no estádio), passei meu ticket no leitor de códigos de barra, fui revistada com toda educacao do mundo, e entrei no estádio.

Já dentro dos portoes do Allianz

Seguimos em direcao ao portao 102, onde ficaríamos na tribuna da imprensa. Sem confusao nenhuma à vista. Logo de cara já me impressionei com a limpeza do lugar: impecável! Nenhum cheiro de xixi ou coisa do tipo. Depois me impressionei com a qualidade da lanchonete (sanduíche, pizza, doces, todas as bebidas possíveis, inclusive quentao, que os alemaos sao viciados e que chamam de Glühwein). Pra comprar coisas, você tinha primeiro que comprar um cartaozinho e nele inserir créditos. Tinha uma maquininha dessa em cada portao. Muito organizado, eficiente e tranquilo. Mas o que mais me impressionou mesmo foi o cuidado que eles tem com pessoas com deficiência física. Vi 3 cadeirantes por lá, todos entraram facilmente no estádio e se posicionaram em lugares reservados a eles, muito bem localizados. Exemplar mesmo.

Espaco reservado aos cadeirantes

No espaco reservado aos jornalistas, nao tinha muita gente trabalhando...



E enfim o estádio por dentro. Moderno, com todas as cadeiras (de todas as áreas) almofadadas, espaco grande nos corredores (ninguém precisa levantar pro outro passar), luzes acesas pela falta de luz do sol, apesar de ser só 1:30 da tarde. De um lado, a torcida da casa, azul. Do outro, a torcida vermelha, dos visitantes. Nao tinha muita gente, mas o suficiente pra eu achar tudo muito bonito. Todo mundo devidamente empacotado por causa do frio. Nao nos sentamos nos lugares marcados (me senti tao criminosa por isso, sei lá, alemaes sao em geral MUITO certinhos, parece que fazer esse tipo de coisa aqui é mais grave que o normal, mas como a idéia foi do Martin, eu fiquei quieta), mas os lugares que pegamos eram realmente bons! (Echt!) Aí eu dei uma olhada pro campo e... CARAMBA, que pequeno! Hahaha! Eu achei TAO estranho, porque ele parecia tao pequenininho... tao campinho de jogar pelada, sabe? Sei lá. Eu nao sei exatamente as dimensoes de um campo de futebol, mas eu tenho CERTEZA que os do Brasil (pelo menos os que eu vi) sao maiores. Estranho demais. Como assim uma Copa do Mundo foi disputada ali naquele 'campinho'? Aquilo nao condizia com toda a modernidade e infra estrutura do estádio, e eu fiquei meio decepcionada por isso, mas pouco depois os times comecaram a entrar em campo, posaram pra foto inicial e comecaram a partida, e eu já nao estava tao incomodada mais com o tamanho do campo. (E o Martin mandou eu parar de tirar foto e prestar atencao no jogo)

Pessoal entrando em campo


Vídeo feito momentos antes do início da partida


Eu achei o mascote do 1860, o leaozinho que também é símbolo de Bayern, muito foto! E durante toda a partida, eles deixam um bichinho de pelúcia em forma de leao ao lado do gol. (Momento 'menininha' do comentário). O lembrete do Martin de que os dois times nao eram lá essas coisas, e de que o jogo provavelmente seria sehr schlecht (muito ruim) nao me intimidou. O que me intimidou mesmo foi o fato de eu nao saber, de jeito nenhum, como me expressar em alemao. Eu queria gritar 'vaaai vaaai, tiiiira a bola meu fiiiiilho, ôôôô sua aaaanta, até eu fazia esse' mas nao tinha a menor ideia de como falar isso em alemao! Fiquei com um nózao na garganta. Desabafei com o Martin sobre isso e ele disse, rindo, que eu poderia tentar, e que bastava ter paciencia. Mas nao deu certo nao. Na hora que o 1860 fez o primeiro gol, eu esqueci que gol em alemao é tor (quem acompanhou a copa de 2006 deveria saber disso) e gritei gol mesmo. E gritei com tanta emocao que parecia que eu torcia pro 1860 desde criancinha! Fiquei rindo de mim mesma ao constatar o excesso de efusividade. A Helena ficou me olhando, sem entender. Mas eu nao era a única efusiva.. ao contrário do que eu temia, os alemaes conseguem esquecer um pouco a ordem (mas nao muito) e gritar também, assim como conseguem falar palavroes uns pros outros (a torcida do 1860 cantava Scheißedusseldorf, ou seja, Dusseldorf de merda) Tá, nada como um 'Ei, Corinthians, vai tomar no c*' típico de sao paulinos como eu (o exemplo serve para Goiás X Vila, Flamengo X Fluminense, etc...) mas pra alemao já é um grande avanco!! Aí o 1860 fez outro gol, que eu perdi pq tava falando pra Helena que a câmera de TV parecia um jet ski (sonsa). Mas viva os teloes do Allianz, que reprisaram o lance! Aliás, eu tive um momento de euforia enorme quando o juiz deu um cartao amarelo, nem lembro pra quem, e apareceu no telao o desenho de um carrinho, buzinando, que estacionava e o motorista colocava o cartao pra fora! MUITO legal! Legal também é a interacao que rola entre o narrador do estádio e a torcida! Nos gols ele falava o primeiro nome do jogador e a torcida respondia com o segundo nome! Bacana demais! Tinha um jogador brasileiro na equipe, o Marcos Antonio, que pelo que eu li na internet jogou no CSA e no Corinthians, e está emprestado por um ano pro 1860. Vamos combinar, ele nao joga muito bem nao, tanto que foi substituido ainda no 1° tempo.
Aí rolou o intervalo. Hora do teste do banheiro. Vários banheiros espalhados pelo estádio, entrei no primeiro e vi uma fila pequena, muito bem organizada, o banheiro extremamente limpo, nem uma gota de xixi na tampa da privada, papel higiênico aos montes, sabonete líquido e secador de maos. Perfeito!
Depois voltei pro meu lugarzinho privilegiado e o segundo tempo comecou. Comentei com o Martin que eu estava dando sorte pro time, e 5 minutos depois de falar isso, o Dusseldorf fez gol. Hahaha. Incrível!! Mais um tempo depois, outro gol do Dusseldorf. Aprendi a nunca mais falar que eu dou sorte pra nada, pq é automático, é falar e a coisa mudar. Mas esses gols me fizeram observar um fato interessante. Na fileira da frente tinha um cara com umas 4 criancas. Eles torciam pro time adversário, pro Dusseldorf. Do lado dele, um cara torcia pro 1860. Rolando o maior respeito do mundo ali! Achei bacana mesmo! Também achei bacana o jeito que o narrador do estádio narra os gols dos visitantes. Enquanto nos gols do time da casa ele apronta um escândalo (mas o 'toooooooooor' nem prolonga tanto quando o 'goooooooool' no Brasil), quando o Dusseldorf fez o gol ele disse secamente: Tor do Dusseldorf. Fulano de tal. PONTO. Dava pra sentir a frustracao na voz do cara! Achei engracado demais! Curioso também é a loucura dos para médicos. O cara nao pode tropecar que eles já vao atender, no Brasil eles sao bem mais contidos...
Aí o jogo acabou! Hunf. Passou muito rápido, fato.
A torcida ainda deu uma cantada, bateu muitas palmas, apesar do empate. No fim do jogo tirei uma foto em homenagem à pessoa que me deu a camisa que eu estava usando, que por sinal, é também uma das pessoas que mais me motivou a estar lá.

E o fato de eu ter usado a camisa do Sao Paulo lá e isso nao ter dado muita sorte pro time hoje (aliás, zero de sorte, convenhamos) nao ofusca o objetivo principal: a homenagem e a representacao. Usei (e continuo usando) com muito orgulho!

Conclusoes depois de assistir a um jogo no Allianz Arena: o Brasil, se quer mesmo sediar uma boa copa, tem MUITO o que aprender em relacao à arquitetura e organizacao. O estádio é IMPECÁVEL em todos os sentidos, só o tamanho do campo que me decepcionou um pouco, mas tudo bem...
Alemaes sao pessoas realmente educadas, e isso é bom, mas confesso que faltou calor humano.. Apesar de ter me divertido MUITO, de ter amado o estádio e a seguranca que a gente sente estando lá, faltaram duas coisas: a ALEGRIA e a vibracao do brasileiro, que SÓ os brasileiros têm e sabem transmitir, e que faz, mesmo, muita falta e muita diferenca.
Do lado de fora do estádio, na saída, percebi que a 'roupa' do Allianz parece plástico bolha gigante (morri de vontade de apertar):



Queria agradecer aos meus companheiros de jogo hoje, o Martin pelo esforco de conseguir os ingressos e se dispor a passar o dia passeando com duas brasileiras (e ainda queria pagar tudo, coisa que eu e a Helena nao deixamos, claro). E à Helena, que nem de futebol gosta, e nunca tinha ido a um estádio! Obrigada por ser a companheirona que você é! :)

Helena, eu e Martin

Depois ainda rolou uma última foto na frente do estádio, que eu espero que nao seja de fato a última (quem sabe um jogo do Bayern ou até mesmo o amistoso Argentina X Alemanha em marco?)



ps: ainda tive o prazer de ver, na volta, torcedores dos dois times conversando amigavelmente, lado a lado, dentro do metrô. (O guri em pé torce pro 1860, o sentado do lado dele estava bêbado e torce pro Düsseldorf)


5 comentários:

Thiago Rabelo disse...

Nossa, Ana, excelente! Fiquei com uma puta de uma inveja ao ler o texto hehe.

Realmente é outro mundo e ao ler o texto fiquei perplexo com tanta diferença e não parei de comparar com as coisas do Brasil em momento algum, principalmente no ponto que você falou dos torcedores voltarem tranquilamente pra casa lado-a-lado. A violência entre as torcidas ta virando algo tão comum que as pessoas já se acostumaram e acham isso normal

E é só na Alemanha que o Azul não vence o Vermelho. Mas ta bom, pelo menos não perdeu.

Daniel Mundim disse...

Cadeira almofadada, limpo, organizado, sem amendoim, e sem cheiro de xixi?! Ah não, isso não é futebol mesmo não...

Ps: A foto tá linda!

Daniel Mundim disse...

Não, corrige aí...TAMBÉM na Alemanha o azul não vence o vermelho, a Helena, gaúcha q é, deve saber bem disso...

Helena Gertz disse...

Me senti muito honrada pela citação: "Helena, que é gaúcha, vegetariana e nao gosta de futebol (mas eu gosto dela mesmo assim)". Até gostei de futebol por alguns minutos. :D

André Ribeiro disse...

Ah ok.. isso responde a minha pergunta sobre se vc ja esteve em munique.. hehe.