domingo, 9 de maio de 2010

Flohmarkt

Tradicao em toda a Alemanha, o Flohmarkt acaba de ganhar mais uma adepta.
Em um domingo ensolarado depois de uma semana chuvosa, resolvi conhecer o tal do Flohmarkt, que acontece aqui em Eichstätt mensalmente. Eu nunca tinha ido antes porque geralmente a feira rola aos domingos pela manha. Domingo de manha praticamente nao existe pra mim. Desde que eu me entendo por gente vivi poucos domingos pela manha. Estou, em quase todos eles, dormindo. Mas hoje o evento ia até as 15 hrs. Uma amiga da República Tcheca sugeriu que fôssemos 12:30, depois da missa à qual ela iria. Ok, acordar 11:30 nao seria tao difícil assim. E nao foi.
Encontrei a amiga Tcheca, o professor de inglês norte americano e as amigas francesas. Fomos entao para o Flohmarkt, no espaco de festas populares da cidade, o Volksfestplatz.
Floh significa pulga. Markt é mercado. E lá fui eu, pela primeira vez, a um legítimo mercado de pulgas. Levei 10 euros, pra garantir que nao iria gastar mais do que podia. A fama (e a tentacao) dos Flohmarkt's é grande por aqui...
Cheguei no local e lembrei um pouco da feira da Lua de Goiânia, mas em proporcao bem menor, claro.

Uma das barraquinhas da feira

Vista geral de uma parte do Flohmarkt

As barraquinhas se organizavam todas em volta da praca, viradas para o lado de dentro. Também nao tinha aquele amontoado tenebroso de gente típico da Praca Tamandaré aos sábados. Além dessas diferencas, havia também o detalhe de que 90% do que era vendido ali eram coisas usadas - de roupas a documentos legítimos pertencentes a pessoas que viveram no período das 1a e 2a Guerras Mundiais.
A primeira barraquinha ostentava uma arara abarrotada de roupas penduradas em cabides. 0,50€ cada peca. Nunca fui de comprar roupa usada, mas sempre ganho roupas das minhas primas mais velhas (isso que dá ser a cacula da família por 12 anos..). Nao tenho nenhuma frescura quanto a isso. Fui dar uma garimpada ali e achei muita coisa bizarra, como jaquetas com ombreiras, calcas jeans com corte de 1990 e vestidos de vó. Mas também achei uma saia que ia até o joelho, chadrez preta e branca, com um cinto preto na altura da cintura. Pensei na possibilidade de tirar dela alguns centímetros no comprimento. Gostei do que imaginei, mas era a primeira barraquinha, entao nao levei. 'Vou dar uma volta primeiro', pensei, seguindo a lógica que sigo quando vou à Feira da Lua.
Na mesma barraquinha haviam sapatinhos de bebê feitos em croché, lencos de amarrar no pescoco (comprei um de vaquinha muito bacana), coisas de prender o cabelo, tudo por 50 cents!!

Primeira aquisicao: um lenco de vaquinha

Algumas barraquinhas à frente a quantidade de roupas foi diminuindo e as surpresas surgiram. Jogos de tabuleiro antigos - garantimos todas as pecas. Caixas de Lego a 1€. Pilhas de discos de vinil, dos grandes e dos menorzinhos. Fitas cassete, revistas antigas, livros. Um deles sobre a Copa do Mundo de 1974, quando a Alemanha foi sede e ganhou o campeonato - na época, ainda era Alemanha Ocidental. Uma das revistas eram quadrinhos do Pato Donalds, que em alemao se chama Duck Donald. Máquinas fotográficas analógicas, filmadora portátil de fabricacao japonesa (10€) dos anos 60 - é o que explicou a simpática senhorinha que nao se incomodou com meu pedido de tirar uma foto da relíquia.

Filmadora japonesa dos anos 60

Jóias, relógios e buttons antigos. Telefones daqueles de colocar o dedo e rodar para discar. Na máquina de escrever alaranjada, um papel datilografado dizia 'eu custo 15€'.

Máquina de escrever, 15€

Uma mini Jukebox ao lado de uma guitarra e um radinho de 'mano' dos anos 80.

Mini Jukebox linda!

Uma das barracas vendia papéis. Me aproximei pra ver do que se tratava. Eram os tais documentos oficiais da época das Guerras Mundiais. A maioria era da 2a Guerra. Documentos de identidade, de admissao no exército, atestados de óbito. Havia também o tao famoso Persilschein, documento emitido após a queda do Nazismo, dado aos cidadaos alemaes que conseguissem, através da resposta de questionários e apresentacao de testemunhas, comprovar que nao tiveram qualquer tipo de relacao com o Nazismo ou alguma de suas inúmeras instituicoes. Nao perguntei, mas fiquei imaginando de onde aquela mulher que aparentava uns 40 e poucos anos tinha tirado todos aqueles papéis oficiais tao raros. Além disso, cartas trocadas entre soldados e suas famílias, cartoes postais, fotos originais dos locais atingidos pela guerra. Uma aula de história recente alema em uma banquinha de feira. Teve também 'aula' de cultura alema contemporânea. Ora ora, estamos na Baviera. Quase todas as barraquinhas vendiam canecoes de beber cerveja, sem ou com tampa de metal (que é pra cerveja ficar gelada por mais tempo). Comprei um pro meu paizao por 5€, com os motivos da bandeira da Baviera (azul e branca) e o nome de uma cervejaria de Munique.


Videogames antigos (procurei um Atari e nao achei), bicicletas, patins.
Uma barraquinha vendia as roupas tradicionais da Baviera, praticamente uniformes para a Oktoberfest: os Dirndls para as mulheres e as Lederhosen para os homens.

Dirndl



Ledenhose, um charme, nao?

Normalmente um Dirndl custa 100€! Ali as pecas eram novas, e custavam 27€. Se eu tivesse o dinheiro em maos, compraria na hora! Mas a dona da barraquinha, que infelizmente nao mora em Eichstätt, me prometeu: volta no mês que vem!
Para comer, nada de empadoes, pamonhas, churrasquinhos. Um carrinho de sorvete estilo McDonalds e o queridinho de todas as feiras na Baviera: pao francês (que aqui chama Semmel e tem formato de gota) com salsichas grelhadas dentro. Nham.
Depois da volta completa, resolvi voltar na banca da minha saia xadrez. Aí eu aprendi a licao dos Flohmarkts: gostou, comprou. Alguma alemazinha feliz levou a saia que eu tanto queria e eu fiquei na mao. Na verdade, de revolta, comprei uma blusa de 1€. Mas a vontade de ter a saia, ainda assim, nao passou. Meus amigos compraram livros, bicicletas, CD's do REM e jaquetas estilo Michael Jackson.
Em resumo, a experiência foi um tanto curiosa e muito boa. Altamente recomendável. Só nao leve dinheiro de menos (como eu), ou dinheiro demais, porque a vontade que dá é de comprar a feira inteira, até as coisas mais inúteis, como o girassol de pelúcia que um amigo japonês comprou por 1€.

Um comentário:

Anônimo disse...

nao eh guitarra é um contrabaixo :) vc é bonita!
abraço