quarta-feira, 6 de junho de 2012

Conexões explícitas



           Notícia publicada na Agência Brasil (pra quem não sabe, é daí que surge a maior parte das notícias reproduzidas pelos veículos, seja TV, Rádio, Impresso ou Internet) mostra os resultados de uma pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente. A pergunta principal era: "você se preocupa com o meio ambiente?" - tema diretamente ligado ao Dia do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho.13% dos entrevistados disseram que sim. Pra mim, na atual "sociedade da informação", onde se tem acesso a informações por todos os lados, esse percentual é muito pequeno. Mas, ainda assim, mostra crescimento. Há seis anos atrás, só 6% das pessoas diziam se preocupar com Meio Ambiente. Estamos caminhando, a passos de tartaruga,  mas caminhando. Outra conclusão que a pesquisa traz é que problemas como saúde/hospitais, violência/criminalidade, desemprego, educação e políticos estão à frente da preocupação com o meio ambiente, e este foi um dos dados que mais me chamou a atenção. Talvez a metodologia da pesquisa não tenha ajudado, não sei, mas o que eu não entendo é como as pessoas podem enxergar essas coisas de modo tão sedimentado, sendo que, em verdade, estão todas bastante interligadas.
Nós criamos uma metodologia que nos ajuda a tentar entender as coisas que nos cercam. Na escola, vemos as matérias como se fossem gavetinhas separadas. Química, física, matemática, biologia, português etc. Depois, na faculdade, a mesma coisa. Um semestre disso, outro daquilo. Aí, na fase adulta, temos duas vidas: a pessoal e a profissional. E assim nos acostumamos a pensar nas coisas como se elas estivessem de fato divididas em compartimentos. Mas elas não estão. A primeira vez que refleti sobre isso foi depois de ler dois livros "As conexões ocultas" e "Teia da Vida", do Fritjof Capra. Se um dia você me pedir a indicação de algum livro interessante que não seja romance, são os que vou indicar. Divisores de água no modo como passei a enxergar a vida.
Capra, que é físico e ambientalista, usa as páginas dos livros para explicar, por "a" mais "b", como está tudo interligado: absolutamente tudo. Se você faz uma burrada aqui, pode saber, ela vai ter consequências acolá. Se briga com seu parceiro/parceira, no dia seguinte você vai agir de modo diferente no trabalho e as pessoas vão perceber. Isso, muito provavelmente, vai afetar também seu rendimento. Se você souber português, suas chances de sair bem em outras matérias cresce, porque você vai saber interpretar melhor o que está tentando aprender. Se você usa uma sacolinha de supermercado por semana, você, sozinho, usou 52 sacolinhas por ano. Parece pouco, mas e se todos os adultos economicamente ativos do mundo fazem o mesmo? O que acontece com todas essas sacolinhas, evaporam? Não. Param, em sua maioria, no mar, isso mesmo, aquele mar longe "do Goiás", com grandes chances de ser engolida por um animal que vai morrer asfixiado por isso. Parece viagem né? Mas não é
Voltando à pesquisa, as pessoas consideram saúde mais importante do que meio ambiente. Pois bem, doenças respiratórias, por exemplo, dependem diretamente do ar que se respira, além das tendências genéticas. Se o ar do seu ambiente não está poluído, então você tende a ficar menos doente. O que fazer para poluir menos o ar? Usar menos o carro, por exemplo, o que impacta também no trânsito, que tem causado um stress danado, que tem causado doenças. É um ciclo.  
Pessoas que vivem em um ambiente saudável tendem a ser mais saudáveis. E a preocupação com o meio ambiente é justamente isso: se preocupar em melhorar a qualidade de vida (de todos, não apenas de nós, humanos), no ambiente em que vivemos. Pessoas mais saudáveis vão menos aos hospitais, que ficarão menos lotados, o que vai possibilitar um atendimento melhor à população. Uma coisa puxa a outra. 
Isso pra resumir em um exemplo, mas também é de assustar o fato de as pessoas não notarem a relação direta da criminalidade e do desemprego com a educação. Todos os fatores citados estão intrinsecamente envolvidos. 
Outro dado da pesquisa é que a maior preocupação no quesito meio ambiente é com as florestas. Sim, é uma causa bem nobre, afinal elas ajudam a regular o ar de todo o planeta (mais uma prova de que está tudo interligado). Mas isso mostra também que as pessoas têm uma visão distorcida de meio ambiente. Acham que meio ambiente é sinônimo de natureza selvagem: animais silvestres, florestas, mosquitos, rios caudalosos. Também é. Mas é mais ainda o ambiente que nos cerca: nossa casa, em primeiro lugar. Nosso condomínio. A rua. Nosso bairro. Nossa cidade. Tudo isso é meio ambiente também, e é onde mais podemos contribuir para diminuir o impacto negativo, visto que é onde vivemos.






Nós não podemos vigiar as moto-serras na Amazônia, mas podemos cobrar da administração pública que arborize a cidade e assim a mantenha. Nós não podemos salvar todas as baleias mas podemos tentar produzir menos lixo, repensando, reutilizando, reciclando. Podemos descartar o lixo no lugar certo pra evitar, além da sujeira e do aspecto porco, que bueiros se obstruam, que ruas se alaguem, que água entre nas casas, que pessoas e animais adoeçam. Nós podemos fazer várias coisas. Algumas exigem mudança de hábito (que eu sei, nem sempre é fácil). Mas outras exigem apenas bom senso, uma dose de pensamento no coletivo e educação.
A conclusão é que, quando as pessoas entenderem que as coisas não são divididas em gavetinhas e que quase tudo que elas priorizam na vida está relacionado a um meio ambiente saudável, então o número de pessoas que "se preocupam com o meio ambiente" vai crescer de maneira mais vertiginosa. 


Não sou uma guru ambiental, um exemplo total de como não causar impacto no ambiente, mas eu pelo menos penso a respeito e tento. Compartilho aqui algumas das coisas que faço:


- Moro em prédio, que tem 2 elevadores e ainda não tem o sistema inteligente, que você aperta o botão e vem só o que está mais próximo. Se no seu prédio também é assim, dê uma olhada antes de apertar o botão e escolha o que está mais próximo. Não precisa apertar os dois. Pode parecer que não faz diferença se só você fizer isso para economizar energia, mas quantas vezes no dia você sobe e desce? E quantas pessoas moram no seu prédio? E se todas fizessem? Comece! 


- Vou a pé para o trabalho. Sou privilegiadíssima por morar relativamente perto. São 20 minutos de caminhada matinal e outros 20 em um sol escaldante na volta (protetor solar e sombrinha ajudam). Poderia fazer o mesmo percurso em 5 minutos, de carro. Mas evito o stress do trânsito, evito pagar estacionamento, me exercito e ainda observo a cidade, um exercício que pode surpreender quem só a observa de dentro do carro. Ah, e é um carro a menos enchendo as ruas e poluindo ainda mais o ar - quem passa pelo centro sente o peso da fumaça dos carros/ônibus nas narinas. É demais.


- No banho: abro chuveiro, me molho, molho o cabelo. Fecho o chuveiro (siiim, até nos dias frios), passo shampoo. Abro o chuveiro, enxáguo. Fecho de novo, passo condicionador, passo sabonete e bucha. Abro o chuveiro e enxáguo tudo de uma vez só. Fim.  Fico 20 minutos no banho mas nem a metade com o chuveiro ligado (e dica pras moças: passar o condicionador primeiro, se ensaboar e enxugar depois faz com que o creme fique mais no cabelo, hidratando-o melhor).


- Máquina de lavar: ela gasta muito mais água do que a lavagem braçal, mas não vou mentir que é uma mão na roda, né? Não precisa deixar de usar, mas a água usada na lavagem das roupas (desde que você não tenha rolado 30 vezes em um campo cheio de lama ou afins) pode ser reutilizada na limpeza de sacadas, do box do banheiro e da privada. Na hora de descartar a água, pegue o cano, direcione para baldes (se prepare, você vai precisar de uns 5 baldes comuns) e voalá: a água estará pronta para reúso.






#ficamdasdicas



Um comentário:

Daniel Mundim disse...

O fato de a pesquisa separar meio ambiente dos outros quesitos já é uma demonstração que temos muito que evoluir. Excelente texto, minha querida.