terça-feira, 12 de junho de 2012

Ou é leve, ou não é amor


No dia dos namorados, não vou falar o quanto meu namoro é bom, colocar mil fotos nas redes sociais e fazer um monte de declarações. Nem trocar presentes caros em um jantar mais caro ainda e colocar fotos no Instagram (nem tenho), não faz meu estilo.Nesse dia dos namorados eu vou falar de um erro comum que eu vejo muita gente cometendo, tanto meninas quanto meninos, e que só atrapalha o caminho de quem quer, mas ainda não encontrou uma tampa pra sua panela.

Dia desses me deparei com um texto no facebook que dizia mais ou menos assim: "quem quer, dá um jeito; quem não quer, uma desculpa". Faz sentido. Mas depois da primeira frase, começaram as bizarrices.
O texto era dirigido a meninas, mas cabe pra ambos os sexos. Aí se seguiam pérolas como “se ele quer, não há mãe, não há trabalho, não há futebol com amigos, não há NADA no mundo que o impeça de ver você”. Má ôôôôôôeeee, pensei comigo. Procura-se um namorado, um companheiro pros bons e maus momentos, ou um escravo que viva para te servir?

Um namorado é uma pessoa comum. Tem família, e vai ter que dar atenção a ela. E é bom que dê mesmo, afinal, um dia você poderá se tornar parte do núcleo familiar dele – e vai querer atenção também. Vai ter sim aniversário de tia, tio, primo, afilhado, mãe, pai e irmão. Se você puder acompanhá-lo, ótimo. Se não, vai mesmo encasquetar caso ele queira ir? O que acharia de um cara que reclama do fato de você ajudar sua mãe em casa, ou que achasse ruim se você fosse de vez em quando fazer aquele programa com o seu velho? Eu acharia muita falta de noção.

Um namorado tem trabalho (se for adulto, claro). Você deixaria o seu trabalho pelo seu namorado? Peitaria seu chefe e diria: olha, meu namorado está me esperando, cheio de saudade e amor pra dar, não dá pra esperar dar 18 horas, então eu vou sair mais cedo, ok??  Existe algum sentido nisso? Existe motivo pra achar que o rapaz não te ama ou não quer estar com você só porque, naquele momento, ele está atolado em trabalho? Claro que se as reuniões depois do trabalho ficarem frequentes demais, rola trocar uma ideia pra saber o porquê, mostrar interesse, se inteirar. Mas sem chegar com 20 pedras na mão pensando sempre o pior de quem está ao seu lado. Isso não é saudável. Vai que o bófe, pra provar que te ama muito, larga o emprego e fica full time ao seu dispor, tipo um gigolô? É essa a ideia de “um cara que ama”?

Há futebol com amigos também. E pode ser qualquer outro esporte ou qualquer outra atividade com amigos, como bar, por exemplo. Por que não? Você tem suas amigas, certo? Se não tem, deveria começar a ter. Faz um bem danado pra saúde e pra vida ter outras pessoas no seu convívio que não o seu amor. Além do mais, pense em algo que você gosta MUITO de fazer. A pessoa que te ama, certamente, não vai te torrar o saco porque você quer fazer algo que te deixa feliz, certo? A não ser que seja sair pulando a cerca por aí ou fazendo mal para os outros, não vejo porquê encasquetar. A pessoa que te ama vai ficar feliz em saber que você está fazendo algo prazeroso. E futebol com os amigos é isso. Ou um clube com as amigas. O fato de seu amado ter momentos prazerosos sem você não quer dizer que ele não queira te ter na vida dele. Só quer dizer que a vida dele não é monotemática.

Outras pérolas desses textos que tenho lido por aí: "Quando queremos, de verdade, sempre arrumamos um jeito.Viramos o mundo de ponta cabeça para trocar o plantão, colocamos o chip no celular do amigo quando ficamos sem bateria, pagamos o dobro para pegarmos um táxi e chegar a tempo, atravessamos a cidade para conseguirmos pegar o último ônibus que já estava com o motor ligado, deixamos para trás a festa de aniversário da melhor amiga (má ôôôêê???), pedimos dinheiro emprestado até para quem não gosta da gente." Na boa, eu não faria nada disso (talvez a troca de chip, mas só se fosse caso de vida ou morte)e se meu namorado grilasse com isso, sinceramente, eu ia achá-lo muito mané. Existem contratempos na vida, oras. Não se controla tudo.

Eu nunca consegui entender a lógica de muita gente que pensa que só é amado se for a pessoa mais importante da vida da outra pessoa. Não é bem assim. Como já disse, o ser que você gosta é um ser humano comum. Teve um passado antes de você. Então, tem família, tem amigos, tem histórias, tem gostos, tem hábitos, tem uma individualidade. O fato de ele estar junto de você agora não significa que isso tudo vai sumir e esse ser vai, a partir de agora, fazer tudo o que VOCÊ quiser que ele faça, e com VOCÊ, na hora que VOCÊ determinar. Significa apenas que um vai fazer parte da vida do outro, não SER a vida do outro.
“Mas quando eu amo, eu faço tudo pela pessoa”. Então meu amigo, você não sabe o que é amor. Isso que você acha que é amor se chama “anulação”. E faz um mal danado pra qualquer relacionamento. Você pode estar embevecido de paixão e nem perceber que está deixando todo o restante da sua vida (família, amigos, lazer) de lado. Mas as pessoas ao seu redor estão observando, estão sendo magoadas e, se algo der errado, você vai querer enfiar a cara em um buraco e pedir desculpas para todo mundo.

O amor mesmo é leve. A pessoa tem sim uma importância enorme na sua vida, porque ela a torna mais interessante. Mas seu mundo não vai girar em volta daquela pessoa. Ela será apenas um elemento agregador de bons momentos, de sorrisos. Nessa roda da vida, devem girar também os momentos de lazer a sós ou com amigos, os planos profissionais, a família, o cachorro, os cuidados com a saúde, os estudos. Já imaginou o peso que a pessoa carrega, se você deposita nela e somente nela toda a razão do seu mundo girar? É peso demais. Como dizia Vanessa da Mata, “é demais, é pesado, não há paz”.


O amor mesmo é pacífico. Quer desfrutar de momentos tranqüilos, não quer ser dono nem senhor do outro.  Não quer agora e só serve se for agora. Se precisar esperar o fim de semana, ele espera. Se puder se encontrar só depois da aula do cursinho, ele encontra. Se a conversa tiver que ser resumida no telefone, ela será sem mágoas ou chateações. Se tiver que passar um tempo longe, vai sentir saudade, mas não revolta. Se vir o outro crescer, vai torcer a favor, não contra.

O amor mesmo é tranqüilo, com algumas pitadas de pimenta. O problema é que essa pimenta, para alguns, são brigas, discussões, ciúme, imposições e egos inflados. Isso não é pimenta, isso é problema. Pimenta é um abraço apertado, um olhar indiscreto em hora e local inapropriado, uma mensagem surpresa, uma nova posição, um brinquedinho novo, um aprendizado conjunto. Isso sim dá o tempero. 

Se você busca mesmo alguém que vai fazer o que você quer, do jeito que você quer, na hora que você quer, você quer é um escravo, não um namorado. E escravo, nos tempos da escravidão, era mercadoria, não amor. "Abolicione" da sua vida essa idéia de que seu amor não vai errar nunca, não vai te deixar com saudade jamais e vai sempre atender seus desejos. Porque ninguém quer ser escravo de ninguém e essa ideia é o primeiro passo pra uma enorme frustração.

Nesse dia dos namorados, eu - que estou muito feliz com meu relacionamento- quero reforçar apenas que o amor é leve e faz bem. Tudo o que for o contrário disso, não é amor. Talvez, o que você tanto busca, afinal, não seja o amor - e por isso esteja tão difícil de encontrá-lo.

Pra terminar o post, uma música do meu amigo Octávio Scapin, a música de amor mais bonitinha da cidade. 



Por favor deixe de bobeira

Este amor já é mais que fato

Agora é o teu corpo no meu
Minha língua e a tua, tem-se um trato
Menina, veja na minha testa
O teu nome e a tua figura
Com meus suspiros ai, uis
O prazer é um pouco de tortura
E ainda que acabem os uis
Eu saberei que existe um ar
Que tem teu cheiro de onde nascem os cheiros
Pé de ouvido, nuca
E respira pra viver
Viverá
E verá
Que nós dois desde já
Somos chuchus empanados
Se não for de mãos dadas.






2 comentários:

Daniel Mundim disse...

Passando só pra avisar que na segunda-feira vou naquele futebolzinho esperto, meu bem. Beijos!

Daniel Mundim disse...

Agora fazendo o comentário sério, acho que todos deveriam ler esse texto. Tenho certeza que seria um choque para muita gente, tamanha lucidez (que falta na maioria dos casais). Tudo que você escreveu parece tão simples, mas a gente sabe que as pessoas adoram complicar. Ah, o futebolzinho ainda tá de pé! =D