domingo, 24 de janeiro de 2010

Montanha Russa 2

Sim, de novo o fenômeno da montanha russa na minha vida, exatos 8 dias depois de todo o caos aeroportuário de volta à Alemanha.

Skibundiando

A Katolische Universität Eichstätt Ingolstadt fica, como o nome já diz, em Eichstätt (aqui) e em Ingolstadt, aqui do lado, cidade da fábrica da Audi. Carinhosamente conhecida como KUEI ou somente KU, recebe todos os semestres vários estudantes intercambistas, europeus ou nao (como eu) e também exporta vários deles. Esse semestre foram 80, no total, que vieram pra cá. Pra socializar e ajudar todo esse povo, existe a AK Internacional, uma organizacao da própria universidade encarregada de ajudar os estudantes estrangeiros a se adaptar por aqui, ajudando em questoes burocráticas como moradia e papelada, mas também em questoes vitais, como festas e excursoes. (Intercâmbio sem festas e excursoes nao é intercâmbio, por isso o bom uso da palavra vital). Logo que chegamos por aqui, medrosos e acanhados, recebemos um livreto com a programacao de excursoes. Lá dizia: em meados de janeiro, prevista excursao para os alpes.
Foi, de todas as outras, a que eu mais esperei!
Quando cheguei em Eichstätt da Inglaterra, abri meu email e lá estava marcada a data: dia 16, excursao para Garmish Partenkirchen, Rodeln. Rodeln = skibunda
Garmish é uma pista de ski bem famosa, que fica ao sul da Alemanha, quase fronteira com a Áustria. Foi sede de uma das edicoes dos jogos olímpicos de inverno na década de 70 e vai ser da copa do mundo de esportes de inverno em 2011. A coisa é bruta. E eu paguei empolgadíssima os meus 30€ pelo transporte e aluguel da 'coisa' que a gente usa pra skibundiar. 10€ seriam devolvidos no fim da excursao (aqui você paga a mais e recebe de volta depois sempre, tipo calcao - com cedilha).
O ônibus sairia da Banhof, a estacao de trem de Eichstätt, às 7:15 da manha. Mesmo assim, ainda fomos em uma festa de aniversário de uma francesa cujo tema era 'vampiros' (muuuito bom) e voltamos duas da manha pra casa.
7:15 do dia 16 estávamos já dentro do microônibus que nos levaria a Garmish. Saímos com algum atraso. Dormi o caminho quase todo, com ajuda do MP3 da Laure e seu bom gosto musical. Rolou um congestionamento de quase uma hora na chegada da cidade, a maioria dos carros com equipamentos de ski e snowboard. Minha empolgacao só aumentando. Nao via a hora de me jogar na neve!
Chegamos e já reparamos na beleza do local. Parece foto, de tao bonito. O sol estava brilhando, o céu de um azul claro lindo. Paisagem perfeita.


Alpes vistos ainda do microônibus


Fomos finalmente pra estacao pegar nossas paradinhas de skibunda, e subimos com uma espécie de bondinho, de dois em dois.

Chegada na estacao de ski



Fotografando a Laure me fotografar


Bondinho que nos leva pra cima da montanha

A subida demora uns 10 minutos. Tudo bem, a beleza do lugar faz parecer que demora 1. Eu nao conseguia parar de tirar fotos e falar pro Julian, que estava no carrinho comigo, o quanto aquilo tudo era muito lindo, absurdamente lindo.

No bondinho na primeira subida


Vista do bondinho - Garmish Partenkirchen, alpes alemaes

Nos demais carrinhos, minhas melhores amigas estrangeiras: Lotte e Jolien, Laure e Sandrina. Desembarcamos no topo da montanha, pegamos a 'coisa' e, esperando os demais da excursao, brincamos de guerrinha de neve e tiramos fotos.

No topo, foto pra porta retrato


Aí comecamos a descida. Eu nao me lembro, até hoje, de ter feito algo mais divertido na minha vida! É perfeito! Como a montanha era bem alta, logicamente nao descemos tudo de uma vez. Sao trechos e mais trechos. Depois de cada um deles uma superfícia plana, onde precisamos levantar e andar um pouco até a próxima descida. A 'coisa' nao tem freio.

Julian e Lotte com seus respectivos skibundas

A coisa que a gente usa pra skibundiar (no caso, sao duas)

O freio sao seus pés, mas lógico que nem sempre funciona, afinal, é gelo, entao a dica quente é pular da coisa e se jogar na neve mesmo.

Em uma das minhas freiadas, pouco molhada

5 minutos de descida e eu já estava enxarcada, parecendo que tinha feito xixi nas calcas (cedilha, por favor). E além de toda diversao proporcionada pelas descidas, que é de fato inexplicável, ver o tombo das minhas amigas, todo mundo comendo neve, ah, é muito bom. Foram 40 minutos rindo sem parar, e exatamente por isso a gente, mesmo enxarcado de neve, nem sente frio. Foi um dos momentos 'eu sou feliz e sei' que eu mencionei no post anterior. Indescritível.

Pessoal da excursao

Nossos tickets davam direito a 3 horas de brincadeiras usando o bondinho pra subir a montanha. Tinhamos gasto pouco mais de 1 hora já, e resolvemos ir pro segundo round. Dessa vez fui no carrinho com a Sandrina, que nao parava de dizer que achava legal, ok, mas que achava muito perigoso também, porque ela queria ir pra um lado e a 'coisa' ia pro outro, ela queria freiar e a coisa nao freiava. E eu falando que nao era perigoso, que só bastava se jogar na neve e pronto. Que a gente ia ficar meio quebrada no fim do dia, provavelmente, mas nada demais. Só a Sandrina estava com medo. O restante do grupo estava totalmente empolgado e êxtasiado, como eu. Comecamos entao a descer novamente a montanha. Dessa vez eu já tinha mais técnica e conseguia controlar melhor a 'coisa', usando o peso do corpo, os pés e as maos (com luvas apropriadas, claro). Já estava me sentindo quase campea brasileira de skibunda.

Quebrando

Aí chegamos em um trecho cheio de falhas, que é o mais tenso. As falhas nos fazem pular um pouquinho, como um monte de quebra moles, sabe? Mas, no caminho que eu peguei, sabe-se lá de onde surgiu, dei de cara com uma falha muito maior que o habitual. E assim que vi, já sabia: me ferrei.
A falha devia ter a minha altura ou um pouco mais, eu estava em uma velocidade considerável, e caí sentada. Ouvi o crack e senti a dor. A Jolien caiu do meu lado. Eu soltei um 'ai' de dor e a Jolien disse, rindo, 'dói né?'. Eu concordei, mas nao ri, e disse que, no meu caso, estava doendo de fato, e eu tinha certeza que tinha me machucado de verdade. Fiquei ali estirada na neve até todos os outros chegarem e me ajudarem. Consegui me levantar e andar alguns metros pra sair do meio da pista, onde poderia ser atropelada a qualquer momento. Deitei no trenózinho da Jolien, que era diferente da minha 'coisa', e fiquei ali, respirando fundo.

Coisas que passaram pela minha cabeca, exatamente nessa ordem:
1) machuquei as costas, mas se levantei e andei, nao deve ter sido tao grave.
2) droga, nao vou poder continuar descendo de skibunda
3) pera aí, como que eu vou conseguir sair daqui entao?
4) que frio do caramba
5) que dor do caramba. Será que foi mesmo sério?

Aí, gracas a Deus, o Julian tinha um celular com créditos, e ligou pedindo socorro. Disseram que me buscariam com um carro. Como assim um carro no meio de uma montanha de neve? O Julian explicou que era um carro de resgate especial para neve. Ok.
Aí o carro nao chegava, eu estava com dor, e com frio, e comecei a ficar, de fato, com medo. As pessoas passavam e perguntavam se estava tudo bem, se já tinhamos chamado socorro, se precisávamos de algo. E quanto mais demorava, mais eu ia me desesperando. E vendo todos os meus amigos ali, parados, congelando, esperando pelo socorro também, bateu aquela sensacao de estar atrapalhando a diversao da geral, e eu comecei a chorar. Pelas circunstâncias, até que demorei pra comecar. Todos me acalmaram, dizendo que nao ia ser nada tao grave, só um susto.
Comecei a rezar pra que estivessem mesmo certos. Até que ligaram no celular do Julian avisando que me buscariam sim, mas de helicóptero. Uaaaau! Cheguei a sentir uma pontinha de empolgacao, me senti em um filme, daqueles com resgates na neve com helicópteros. Faltou só um Sao Bernardo bem grande e peludao pra trazer água pra mim na coleira. A verdade é que eu me agarrava a qualquer pensamento aparentemente idiota, porque eu nao queria acreditar de fato que algo realmente sério poderia ter acontecido.
As meninas terminaram de descer, nao fazia sentido todo mundo ficar ali, congelando e me esperando. O Julian e a Sandrina ficaram. O helicópero amarelo chegou, jogou neve na cara de todo mundo, e entao fui resgatada, exatamente como nos filmes, imobilizada, injecao de remédio contra a dor (isso doeu), perguntas em alemao e pressa, muita pressa. Me deitaram dentro do helicóptero, colocaram um fone de ouvido por causa do barulho das hélices e em minutos estávamos pousando no hospital.
Fiquei deitada em uma maca na sala de espera. Um pouco mais tarde o pessoal chegou. Eu nao estava com tanto medo assim, mas, sei lá porque, nao parava de chorar. As lágrimas saíam involuntariamente. Fui fazer entao o raio x. Bati um super papo com o radiologista, que contou que queria ir pra Sao Paulo em fevereiro, pediu dicas de companhias aéreas que fazem a rota Europa - Brasil, etc etc. Ele elogiou bastante meu alemao, o que me deixou feliz. Aí quando o exame foi feito, e ele voltou da salinha de análise, a feicao dele era outra. Ele estava sério. E eu pude enxergar nos olhos dele que haviam lágrimas ali. Aí me preocupei. Perguntei o que havia acontecido, e ele, bem baixinho, sem a simpatia e o sorriso da conversa anterior, apenas respondeu que meu médico ia me falar e que torcia muito por mim, que eu era uma menina muito doce.
Fui levada entao pra uma salinha com umas figuras do esqueleto humano na parede. O médico entrou, todo sério, e comecou a explicar que eu tinha quebrado dois ossos nas costas, tudo isso mostrando as tais figurinhas na parede. Na hora pensei que nao poderia mais voltar a andar. Aí o desespero tomou conta e eu chorei de fato. Ele disse que eu teria que dormir no hospital, e que durante a noite ele e os outros médicos iriam pensar se eu fazia cirurgia ou nao. Se havia a possibilidade de nao fazer cirurgia, entao nao podia ser tao mal assim, pensei. Com medo, perguntei se isso poderia afetar meus movimentos. Ele disse que andar eu poderia, com certeza, porque o osso quebrado foi em uma parte externa, nao perto do nervo central da nossa coluna, mas que a recuperacao poderia ser consideravelmente demorada, e que coluna, de uma forma ou de outra, é sempre grave. Fiz o que podia fazer. Continuei chorando. Enquanto chorava, o infeliz do enfermeiro inexperiente tentava me furar com uma agulha na mao pra passagem do soro. Perguntei por que nao na dobra do braco, onde a minha veia era visível. 'Nao, a gente fura a mao'. Mas ele nao achava a veia por nada. Levei três furadas doloridas na parte de cima da mao até que ele desistiu e resolveu furar a dobrinha do braco logo. Infeliz.
Quando reencontrei todo mundo, todos já tinham detalhes do que tinha acontecido. A Lotte e a Jolien iriam dormir em Garmish, em um hotel pago pela AK, e no dia seguinte me visitariam de manha e iriam embora. A tarde a Sandrina e a Laure viriam com minhas coisas e com o meu celular. Agoniante nao poder mandar mensagem pra certas pessoas que eu tinha certeza que estavam muito aflitas sem notícias.
Comprei um cartao telefônico pra fazer funcionar o telefone do quarto do hospital, que é telefone - TV e vc tem que 'alugar'. Tem que ter dinheiro no cartaozinho até pra receber ligacao. Liguei pro meu pai. Nem preciso contar o quanto foi difícil acalmá-lo. Dei a notícia bem rápido e desliguei o telefone. As meninas trouxeram coisas básicas, como escova de dente e pasta, ficaram comigo até o término da hora da visita, às 8. Eu dividia o quarto com uma senhora, Frau Schmidt, que havia sofrido um acidente de ski, quebrado o fêmur, e tinha operado e colocado três pinos na perna. Conversamos um pouco, e eu adormeci cedo. Acordei várias vezes de madrugada, de forma abrupta, tremendo o corpo todo. Sinais claros de que eu ainda estava em choque. Domingo às 7 entraram no quarto, mediram a pressao e a temperatura. 7:15 chegaram os médicos, conversaram com a enfermeira um pouco, falaram que eu nao precisaria fazer cirurgia mas que teria que ficar alguns dias no hospital. Quantos? Ainda nao sabiam. 8:15 chegou o café da manha, que eu deixei quase intacto. Aí eu disse pra enfermeira que queria fazer xixi, e que nao queria fazer na bacia de novo nao, como tive que fazer no dia anterior (quem já teve que fazer xixi deitada, na bacia, por nao poder se levantar, sabe o quao terrível é isso pro nosso psicológico). Ela disse que tudo bem, que me ajudaria a ir ao banheiro andando. Na hora que eu levantei, no entanto, tudo ficou preto, eu caí de volta na cama e, de repente, o corpo todo adormeceu. Eu nao conseguia mexer minhas maos, meus pés, minhas pernas, meus dedos. Minhas duas maos comecaram a se dobrar, involuntariamente, e eu achei que ia quebrar os pulsos. Tudo que eu conseguia mexer era a cabeca. Desesperador. Na hora tive quase certeza de que a coisa era mais séria do que parecia ser e que algo tinha afetado meus nervos na coluna sim. A enfermeira chamou o médico, me levaram correndo pra CTI, tipo UTI, e pediram pra eu respirar fundo, e mais fundo. Os meus pulsos pareciam que iam explodir. Eu nao me lembro de nenhuma sensacao pior na minha vida. Na CTI colocaram tubos no meu nariz e mandaram eu soprar um saco com toda a forca que eu pudesse. Depois de alguns minutos da maior tensao do mundo, eu consegui sentir meus dedos, maos, pernas e pés de volta. Perguntei se tudo isso tinha a ver com a minha coluna, e o médico foi enfático na negativa, dizendo que faltou oxigenacao no corpo por eu ter ficado muito tempo deitada, e que nao tinha mesmo nada a ver com a coluna. Mas eu nao estava acreditando muito, e ainda estava muito nervosa. O que me lembro depois é que estava novamente no quarto do hospital. Me deram sedativos pra dormir, pensei. As meninas tinham ido me ver, nao me encontraram e deixaram uma carta. Algumas horas mais tardes a Sandrina e a Laure chegaram. Pedi pra enfermeira novamente pra ir no banheiro, mas dessa vez, respirei bem fundo e fui bem devagar. Consegui ir andando normalmente. Consegui fazer xixi normalmente. Saí do banheiro e a Frau Schmidt estava ouvindo música. Até brinquei que queria dancar. Estava, também nao sei porque, tranquila. Acho que meio grogue ainda.
As meninas trouxeram meu celular, cheio de mensagens, como eu já previa, de um certo rapaz desesperado por notícias, achando que eu tinha morrido congelada. Respondi as mensagens explicando que congelada nao, mas que nao estava tudo bem também nao. Contei o ocorrido com o coracao na mao, sabendo que estava causando uma preocupacao enorme nele e nos meus pais também. Isso foi uma coisa que pesou muito: as pessoas que mais me amam, e vice versa, estao todas a 10 mil km de mim. Mas percebi também o quanto fiz excelentes amizades nesses 4 meses de intercâmbio.
Os demais dias foram tranquilos, rotineiros. Sempre a medida do pulso e da temperatura às 7, os médicos 7:15, café 8:15, almoco 12:00, chá 15:00, janta 17:30, injecao contra trombose na barriga às 19:15 (isso dói demais).
Conseguia andar, passear pelo hospital, tomar banho sozinha. Precisava de uma ajuda ou outra pra me vestir. Mas, no geral, estava muito bem, e estava me sentindo feliz, porque tudo que eu conseguia pensar é que poderia ter sido muito, muito pior.
Só que a rotina era muito entediante. Nao aguentava mais ler Entrevista com o Vampiro. Nem as revistas de fofoca em alemao gentilmente cedidas pela Frau Schmidt.

Tédio no hospital

Recebemos mais uma colega de quarto, Frau Oswald, que roncava muito alto. Nao recebi visitas porque todo mundo estava estudando em Eichstätt, em uma das semanas mais decisivas, cheia de trabalhos pra apresentar. Inclusive, perdi a apresentacao sobre Novas Mídias que tinha que ter feito com a Sandrina. Eu tentava nao pensar nas consequências acadêmicas, e continuo tentando nao me importar muito, afinal, acidentes acontecem. Uma das coisas que me ajudou a aturar a rotina foi a vista do quarto do hospital. Tenho sorte com vistas.

Vista da janela do hospital

Me sentia muito bem e tinha certeza que podia ir embora pra casa. Pôxa, eu moro bem atrás de um hospital em Eichstätt, tinha mesmo que ficar plantada ali, em Garmish, longe dos meus amigos? Ironia demais do destino pra minha cabeca.
Eu jurava que ia recber alta na quarta feira, mas o médico cortou minha onda e falou que talvez na quinta. Aí na quinta de manha acordei, fiz exames, passeei pelo hospital, constatei que deve ser pré-requisito contratar enfermeiros muito bonitos (mesmo), voltei pro quarto, tomei banho, e depois soube que ia poder ir embora. Julian e Ygor me buscaram de carro. Me despedi das minhas colegas de quarto, pelas quais peguei considerável afeicao, afinal, eram minhas companhias diárias. Uma das enfermeiras também me marcou bastante, uma senhora muito simpática mesmo. Mas nada tao bom quanto ver os meninos. Paguei o que tinha que pagar (o seguro cobre grande parte, mas nem tudo), entrei no carro com todo cuidado do mundo, sentada na almofadinha de sentar que tive que comprar, e finalmente, duas horas depois, cheguei em Eichstätt, na minha casinha linda.

O que realmente importa

Fui recebida por meus mitbewhoneren (Sandrina, Laure e David) e pela Jolien com cartazes na porta do meu quarto. 'Welcome Back' (porque as meninas nao sabiam como escrever seja bem vinda) e um escrito 'Bis heute abend' - até hoje a noite.

Cartaz na porta do meu quarto (eu sei, nao dá pra ler na foto, mas é só pra registrar)

Abracei todo mundo com muito cuidado, agradeci muito ao Julian por ter ido me buscar no hospital e senti um cheiro forte de chocolate. Comentei sobre o cheiro e a Sandrina disse 'fizemos fondue mas já comemos tudo'. Nem escondi minha frustracao, pensei 'nossa, que paia, elas sabiam que eu ia voltar hoje e nao deixaram pra mim.. que estranho'. Mas aí fui pensar nas coisas práticas. Eu devo ficar em pé ou deitada. Sentada é a pior coisa. A nao ser que seja em uma cadeira bem alta, de altura regulável, que em alemao chama Stehstuhl e custa 40€. Nao posso agaxar. Nao posso virar pra um lado e pro outro bruscamente. Nao posso movimentar a coluna. O resto posso tudo. Mas minha cama é um beliche, com colchao só em cima, e nao tem chance nenhuma de eu conseguir subir nela desse jeito. Logo, Laure dorme no meu quarto e eu no dela, o que nao é legal, porque ela tem uma super cama de casal e um super quarto enorme (e paga mais caro por isso), enquanto eu tenho um beliche de solteiro (existe beliche de casal?) e um quarto miniatura, e pago bem mais barato por isso. Queria comprar uma cama normal na loja de usados absurdamente baratos aqui em Eichstätt, mas simplesmente nao tem lugar pra pôr a cama. Pedi mil desculpas pra Laure por isso, mas ela foi super fofa e disse que tudo bem, que o mais importante era minha saúde. Aí fui ligar finalmente meu computador, ler emails e dar notícias, e enquanto estava no meu quarto, a Lotte chegou. Me abracou, fez festa, etc etc. Continuei no pc distribuindo emails de notícias, inclusive pros meus grupos de trabalhos acadêmicos, quando ouco uns barulhos suspeitos. Tento ir pra cozinha ver o que se passa e a Laure nao deixa. Saquei que elas estavam aprontando alguma coisa. Acertei: o cheiro de chocolate era de um bolo que elas tinham feito pra mim, e a Sandrina tinha comprado uma Pepsi porque no hospital eu disse que sentia falta de refrigerante!
Liiiindas!

Bolo de chocolate feito pra mim

Manteiga derretida que sou, contive o choro. Mas acho que consegui demonstrar toda a alegria que elas me proporcionaram. O que realmente importa é que, mesmo quebrada e a 10 mil km de casa, eu estou cercada dos melhores amigos que alguém pode ter.

Cereja do bolo: sexta feira recebi a visita do Johann, francês, amigo do curso de alemao. Veio trazer a matéria de alemao que eu perdi nas aulas e trouxe também vários bolinhos de chocolate, que se parecem com bolinhos de petit gateau, deliciosos, feitos por ele mesmo. Uma graca!
Sábado recebi visita surpresa da Helena, de quem perdi o aniversário, que foi dia 21, justamente dia que eu cheguei do hospital. Trouxe tulipas lindas que fecham a noite e abrem de dia.




Sábado a noite recebi a visita do Martin, alemao amigo do David, meu amigo também, o que nos levou no Allianz Arena. Trouxe filmes pra eu assistir (apesar de que já tinha assistido todos, mas valeu demais a intencao) e uma caixa de chocolates. Ele disse que acha interessante o modo como o brasileiro vê as coisas: mesmo na merd*, a gente sempre dá um jeito de procurar ver o lado bom das coisas, coisa que alemaes (europeus no geral) nao têm talento pra fazer. Gostei ainda mais um pouco do fato de ser brasileira. Amanha é meu aniversário e os mais chegados já avisaram que vao vir comemorar aqui e brindar, porque apesar dos baixos (as vezes bem baixos) que eu vivo, eu tenho também muitos 'altos', e mais importante de tudo: eu tenho amigos, tanto aí no Brasil quanto aqui, e todos, de certa forma, estao comigo. No final, isso é o que realmente importa, e com isso qualquer dificuldade se torna lidável. Tenho um tratamento todo pela frente ainda, nao vou poder fazer tudo que planejava pras minhas férias de inverno aqui, vou precisar fazer fisioterapia e tudo mais, mas, repito, com apoio da fé, de amigos e pessoas que nos amam, tudo se torna lidável.


Ps: você pode achar que eu sou uma pessoa extremamente azarada. Eu, por incrível que pareca, ainda consigo enxergar o quao sortuda eu sou. E me orgulho por isso.
Ps2: apesar dos pesares, nao, eu nao me arrependi do skibunda. É massa demais, e daqui uns anos eu faco de novo! Se Deus quiser! (mas sem a parte 2, please)
Ps3: pedido de aniversário: ficar sem fazer posts sobre o fenômeno da Montanha Russa por um booom tempo, sim?

2 comentários:

Daniel Mundim disse...

Realmente, fui mt emoção nesse começo de ano...mas o q fica é o q vc colocou em seus PS´s. Incrível q mesmo com uma tragédia dessas eu consiga ler o seu texto sorrindo. Vc transforma td em apenas um "acidente de percurso", mas o q não apaga de nenhuma forma a sua alegria de viver, q é e sempre foi intensa!! Mas por favor, tente evitar esses acontecimentos na sua vida...

Unknown disse...

eu quero te matar >/
meu coracao veio ate a garganta.. vc deve ter matado seus pais do coracao..
mas oh ainda bem que vc ta bem, e volta logo to com ciumes dos seus amigos estrangeiros e morrendo de saudade d evc!